TUDO AO SEU TEMPO



Tarde de finados,novembro/2012.
Campo Santo.
Apanho algumas flores , e tento enfeitar caminhos de quem sempre lembro.
Por quietas ruelas e avenidas estreitas parece imperar a lei do silêncio .
Uma tênue claridade arrasta algumas cores no condomínio fechado da saudade.
Retratos,datas,frases reflexivas...odores de parafina derretida,lírios e crisântemos incensando ares.
Atino sobre as tantas histórias abruptamente interrompidas,para as quais negara-se o direito de escolha no desfecho,ainda que este, fosse tão somente uma frase de efeito.
É a lei natural da vida,diriam-me os práticos à quem eu ousasse questionar sobre o assunto.
Alguém comenta em voz alta da alegria do reencontro com membros da família.
Abraços calorosos,elogios,saudações...
Um clima festivo reúne parentes vivos diante da lápide dos que se foram.
Pouca gente ainda resta a perambular entre as sepulturas.
O zumbido de uma abelha ao redor das margaridas,prende a atenção de uma velha senhora.O olhar fixo no pequeno inseto voador e um pensamento distante.
Passo por ela tentando adivinhar os enredos de suas divagações.Um rosto jovem de mulher na placa de bronze parece acompanhar os movimentos delicados da abelha no entorno do vaso de margaridas.
Reflito sobre as tantas partidas ,algumas tão brutais e repentinas,sem um aceno de despedida,amigos e entes queridos fazendo a travessia ,e sinto como aos poucos vamos perdendo nossas referências.
Com o correr do tempo,vamos nos tornando mais vulneráveis e as carências acentuam-se com o peso da idade.
Subitamente me dou conta da melancólica carcaça que arrasto pelo condomínio dos mortos.
Mãos invisíveis apertam-me a garganta.
Em silêncio,cruzo o portão e vou ganhando os espaços cheios de vida na minha rua.
O que ainda resta de sol,espalha-se sobre a calçada de pedras irregulares por onde piso e, por igual nas ruelas do conglomerado dos ausentes.
Haverá para sempre ,um tempo de nascer,um tempo de viver e um tempo de morrer...
Talvez aquela senhora ,atenta aos gingados da abelha, estivesse refletindo sobre isso:
“Tudo ao seu tempo”.
Texto  reeditado.Preservados  os comentários ao  texto  anterior:



104540-mini.jpg?v=1521843078
02/11/2016 17:49 - Leda Mara
Pois é,caro poeta conterrâneo! Tudo tem seu tempo,e por isso devemos viver o melhor que possamos,deixar nossas melhores imagens e um bom nome,porque tudo passa.Bem refletivo seu texto! Abraço


05/11/2012 03:48 - Chico Chicão
Meu caro Joel das belezas polacas do meu Paraná querido.Um texto bem introspectivo e altamente filosófico. A Maravilha da Vida está justamente na certeza que um dia vai acabar.Então vivamos*cada vão momento como se fora o último*.-Vinicius de Moraes. Creio que a Grandiosidade da Vida está no Viver intesamente e não no Morrer.Temos que aceitar nossa precária situação de humanóides finitos.O que você escreveu não é filosofia de buteco,mas pura reflexão de um homem que *AMADURECEU*. Escreva mais,Joel.Obrigado.Fique na paz


04/11/2012 13:19 - JANE LOPES [não autenticado]
Caro Poeta, acabo de ler esta frase e em seguida leio teu texto. Não foi por acaso..." NÃO VIVA PARA QUE SUA PRESENÇA SEJA NOTADA, MAS PARA QUE SUA FALTA SEJA SENTIDA..." ABRAÇOS FRATERNOS SEMPRE.


98617-mini.jpg?v=1358889884
03/11/2012 10:13 -
Tens toda a razão amigo Joel.O importante é como interagimos neste intervalo de tempo que nos é ofertado pela suprema Divindade.Parabéns pela crônica que conseguiste tirar de um lugar não muito inspirador. rsrsrsrs Mas cronista é assim mesmo, eu sei muito bem o que é isto.Um grande abraço e que a tua criatividade continue em alta.