O bajulador e o mentiroso
O bajulador e o mentiroso começam a perder espaço no imaginário do proletariado. A enganação perde um pouco do seu glamour. O inútil já não faz tanto sucesso como na época em que não fazer nada era pré-requisito para receber o título de conde. Há certo frenesi, que contragosto, se instala na epiderme dos indolentes. E, a tão discutida ética comentada e postulada por Kant, que me dava a impressão que só servia para “encher linguiça”, volta a ser esporadicamente mencionada. Hoje, todavia, já voltamos a falar que a vida é um bem maior, respaldada pela Constituição. Voltamos a querer saber se o fato é verdadeiro ou é falso, coisa que em passado recente era o que menos importava.
Também havia os choques de perfis e papéis. Nunca entendi porque uma pessoa ignorante em energia era designada ministro e, uma das incumbências era discutir matriz energética.
Embora já não estivéssemos no ano de 1917, ainda imaginava-se o confisco arbitrário da propriedade privada. Ao Estado, tímido, cabia o ato de observar, quando, em outros países agia-se no cumprimento da lei. Confundia-se a república com a casa da mãe Joana. O termo república servia apenas como argumento de autoridade.
À medida que as distorções em relação aos conceitos universais se tornavam consenso comum cheguei a pensar que estava sofrendo da síndrome da idiotice crônica, uma psicopatia que merecia tratamento clínico, embora não estivesse contemplado na relação da epidemiologia.
Ainda bem que tinha lido o Monge que vendeu sua Ferrari e, isto fez eu refletir o momento, cujos atos/atitudes colidiam com tudo que tinha aprendido nos bancos universitários. Sim, foi a reflexão que me levou a concluir que nem estava estudando para “burro” e que nem estava louco. Tive paciência; os monges tem paciência. Sim, ainda havia o conceito de gravidade, ação e reação. As teorias continuavam sendo teorias e os dogmas continuavam imutáveis.
Então, grosso modo, a realidade não mudou; o que mudou foi o comportamento das pessoas. Bom, comportamento é resultado de uma vontade ou de uma psicose. Bem, sobre as vontades eu não tenho o menor poder de administração, portanto, quanto às vontades me cabe somente observar.
Todavia, sempre pensei no panorama o qual estava inserido e isto me fazia pensar. Opa, se penso logo existo. Talvez nem tudo esteja perdido, pois para felicidade minha vi outras pessoas pensando, discordando e indignando-se, o que me levou a concluir que o mundo tem muitas baratas, mas também tem gente. Era a biologia e a antropologia moldando uma sociedade viva.