Parricha
Não sei se por influência do meu pai ou pelo canto mavioso do seu canarinho branco encantando nossas manhãs pueris, eu decidi: vou comprar um
canarinho, branco ou não, mas vou comprar, com gaiola e tudo, assim já vem acostumado, ah, filhote ainda, sem dor na minha consciência. Decidido fui pra ação. Sabia do meu amigo de infância o Zomar, ruim de bola, alegre e fanfarrão, criador de canário.
__ Zomar, blza, véio? Tô querendo um canário, filhote ainda, com gaiola e tudo, se possível branco...
__ Ué, tá na mão...
Levei o bichim pra casa junto com as recomendações. Meu pai, lá do céu, deve ter aprovado.
O tempo não perde tempo e foi se fazendo presente. E o Branquinho, só comendo, só engordando, só crescendo. Cantar, nada. Só ensaiava uns arranhados estranhos na garganta, mas o canto mavioso, nada. Pensei, tá novo ainda. Paciência. E o tempo, ah, o tempo... Pensei novamente: deve ser a solidão... Comprei cds de canto de canários, os mais diversos possíveis, instalei caixas próximo da gaiola, som ligado pela manhã toda e... nada. Só uns pios, muito silêncio, curiosidade, e como comia, ah, como comia. E o tempo, ah, o tempo. Apelei. Votei no Zomar. __Véio, num canta nem quando pula na água pra se refrescar... o danado é só comer o dia inteiro. Acho que você me vendeu foi um Parricha. __Cumé qui é? Parricha? Não cunheço... __ Pois é, Parricha... come que nem Pardal e canta que nem Garricha...
Devolvi.