IGUALDADES E DESIGUALDADES. POR QUÊ?
Quais estranhos desígnios formam essa divisão no mundo, muitos com tanto e outros com tão pouco? Por que o muito que sobra não chega ao pouco que falta? Onde mora o egoísmo, no coração do que não sente ou na falta de ação do braço que não exerce sua força e nos neurônios dos que não usam a inteligência para mudar esse estado de coisas?
Onde está a vergonha dos desavergonhados que solapam da miséria a fortuna contrária à lei, mera regra, enriquecimento que mancha e debocha de todos, restando altiva e imune?
Pior, o que chama o direito de enriquecimento sem causa é aceito e merece até aplausos de muitos. Pior ainda, de muitos que seriam conscientes, de percepção razoável. Grita a lógica a pedir razões, por quê?
Que consciências são essas que dormem saciadas pelas migalhas entregues? Será que entendem necessárias e bastantes? Não alcançam um pouco mais o muito retido e “de direito” de todos, independente de situações que distinguem? Ninguém pode distinguir onde o pacto coletivo não distingue, a lei.
Não basta uma compaixão se voltar para essa demonização que enxovalha os que estão na paz do Cristo, pois como mostra Dante Alighieri, nos horrendos círculos de sua “Commedia”, arderão no fogo do inferno:
“Enquanto conservei a forma, em carne e osso ( d’ossa e di polpe) que recebi de minha mãe (che que la madre mi die) minhas obras não foram de leão mas de raposa (ma di volpe); conheci todas as astúcias e dissimulações políticas (io seppi tute), e com tais artifícios as empreguei que o eco de minha fama repercute por toda a terra”.
A vida é breve, a eternidade não, como mostrou o poeta Virgílo a Dante.