Tempestade

Estou parado olhando pela janela a garoa caindo em minúsculas gotículas sob a luz amarela do poste, as lágrimas caem dos meus olhos percorrendo a minha face e fazendo cócegas quando chegam aos lábios e eu nem sei mais pelo que estou chorando, meus olhos ficam pesados, vou me perdendo em delírios e me afundando no mais profundo eu, uma confusão que é desesperadora e confortante, assim eu me perco aos poucos, eu entorpeço e meu olhar fica distante, as lágrimas param de cair e secam nas maçãs do meu rosto, eu viajo para um destino desconhecido.

Longe eu consigo ouvir alguém, uma pessoa esquecida demais pra ser lembrada, um gemido distante que ninguém quer ouvir, uma voz conhecida mas á tempos deixada lá.

Dentro de mim eu me rasgo, me arranho, grito, tento sair, eu me sufoco, as grades são grossas demais para se romperem, a cela está suja, correntes curtas demais me prendem e eu caio no chão, eu tento gritar por ajuda mas não escutam, estou ensanguentado, estou machucado de tentar uma fuga de mim mesmo. Não há saída, não há luz, existe apenas a escuridão que aos poucos se torna acalentadora e surge como uma velha amiga, fico cada vez mais acostumado com as sombrias partes do meu ser que se fundem a mim e me tornam quem eu sou hoje.

Eu não sei mais se estou no ápice da calmaria ou no olho do furacão. me esconder dentro dessa casca oca agora é o que me sustenta, a ajuda nunca veio, a tempestade nunca passou - ou nunca aconteceu - me sinto como um meteoro desenfreado que cai e leva tudo o que está na frente. Mas como o meteoro, é tudo o que eu sei fazer, é a minha ordem natural e ...

Sinto uma mão tocando meu ombro e acordo do devaneio, ainda estou parado na janela, agora a garoa se tranformou numa chuva forte que encharca meu rosto, "está tudo bem!" respondo sem nem ao menos saber qual foi a pergunta. Deito e durmo.

Yan Braz
Enviado por Yan Braz em 31/10/2018
Código do texto: T6491316
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