A Gata Morgana (2)

Bom, Morgana não é uma gata qualquer, ela tem um passado bem triste. Talvez isso explique seu jeito revoltado...

Eu havia sido operada, estava no segundo dia depois de ter retornado do hospital. Estava sentada em casa comendo uma maçã quando, de súbito comecei a escutar um vozerio.

Era um grupo de bêbados e pareciam alterados entre si. Passaram pelo muro de minha casa discutindo, pararam perto do rio em frente e eu escutei um barulho de algo sendo atirado lá dentro, então começaram a rir e foram embora barulhentos.

Uns 10 minutos se passaram e comecei a ouvir uns miados desesperados de filhote. Rápido entendi o que havia acontecido. Peguei um balde e uma corda e fui andando devagar, com medo dos pontos arrebentarem. Cheguei ao portão e desci devagar o degrau, fui flagrada pelo vizinho, ele sabia que eu havia sido operada no dia anterior e me deu uma bronca.

Mas teimosa como uma mula não desisti do resgate e fui me arrastando devagar, apesar das dores nos pontos.

Cheguei ao rio e vi a diminuta criaturinha com a cara coberta de lama podre do valão. Desci o balde com um petisco dentro, um garotinho de minha rua foi ver o resgate e acabou me ajudando.

E assim a pequenina gatinha foi salva da morte e da maldade humana, tive de dar- lhe um banho prolongado para poder retirar a lama imunda e infecta que lhe aderira ao pelo e desentupir seu narizinho do lodo infiltrado cuidadosamente, com um cotonete que montei. Ela pareceu gostar da água morna e da limpeza que retirou toda a sujeira. Também estava com muita fome.

Quando minha mãe retornou das compras já era tarde demais. O vizinho lhe contou minha desobediência às recomendações.

Mas eu estava bem pois havia salvo uma vida. A gatinha havia dormido feliz e bem alimentada no ninho que eu construí dentro de uma caixa de sapatos.

Ali era seu novo lar, dentro do meu quarto. Uma nova e melhor vida, mas as lembranças da crueldade humana nunca a deixariam, permaneceriam para sempre sem banho que as apagassem..