Redes na praça

Dia 28 de outubro à tarde, passando por uma das ruas do bairro dos Vinhais, me ponho a pensar sobre o cenário das eleições de presidente do Brasil, ainda incerto, cercado de mistério e muito, mas muito vale tudo. São vários os vieses que podem alterar esse quadro político que está posto, e, consequentemente, podem interferir na decisão do voto, até do meu que, confesso, tenho dúvidas, pois, as pesquisas apontam para uma polarização entre o Haddad e o Bolsonaro.

Contra o Haddad, que tem por coluna política o Lula, oficialmente colocado fora do páreo pela justiça, sobrou um grande desafio: convencer o segmento menos ideologizado de eleitores de que ele é um representante legítimo do Lula/PT. Empreitada difícil e ainda mais complicada ao se perceber que nada é mais falso, haja vista o camaleônico aspecto físico-discursivo que o candidato assumiu na tentativa de, desesperadamente, vencer o seu antagonista que sobe nas pesquisas.

Bolsonaro, até o momento, representa o fruto da carga emocional dos que elegeram honestidade, ordem e segurança pública, assuntos caros ao imaginário da nação. Entretanto, em uma eleição presidencial alguns fatores são importantes e pesam, por exemplo, o tempo de TV e a preparação técnica do candidato para enfrentar os debates e tratar de questões difíceis com as quais o Brasil, ultimamente, tem sido bombardeado. Ele está ausente e nunca demonstrou muita habilidade e conhecimento específicos quando chamado ao debate público e, tão pouco, recebeu acolhimento de alguns setores da mídia e dos partidos para conduzir sua campanha.

O embate esquenta e os nossos telefones são bombardeados com todos os tipos de informações, sejam fakes ou fatos... Pertenço a uma numerosa família e todos os dias no watsapp desta, observo algumas discordâncias, explicações óbvias ou interessantes, mas percebo que não há ninguém brigando, se bem que alguns resolveram sair para acalmar os ânimos. Alguns apaixonados, de ambos os lados, defendem os seus candidatos o que é óbvio e também normal. Então, me pergunto: democracia não é isto, respeito às diferenças e diversidade de posturas, pensamentos e posicionamentos?

Nesta tarde, ao transitar por aquela rua, e pensar essas questões, confesso que fiquei aliviada quanto a minha intenção de voto. Observei que uma família, gozando de pura paz e harmonia em um momento de muita importância para o destino da nação, resolveu sair do recôndito lar, e, na praça, armar suas redes em baixo das sombras que as árvores possibilitavam.

Eu então pensei: por que julgar pessoas que amamos por votarem em um candidato no qual eu não votaria? Caberia a mim o direito de achá-las monstros por causa de sua opção política? Não. Precisamos ser cuidadosos no trato com as pessoas, pois, independente do que elas pensem ou do candidato que será eleito, hoje, é vida que segue e ela será bem melhor se seguirmos o exemplo daquela família. Apesar da lei seca, reunidos e deitados, balançavam nas suas redes armadas naquela praça! Viva a democracia!

Camila Nascimento.

São Luís, outubro de 2018.

Camilamsn
Enviado por Camilamsn em 30/10/2018
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