A Primeira Aventura
Eu sabia por intermédio do meu parceiro de carteira, no quinto grupo escolar, que no Mercado Municipal de Campinas havia uma banca que vendia gibizinhos usados, mais em conta, e em bom estado, ao alcance da garotada da minha idade (de 8 anos).
Para que tivéssemos alguns trocados no bolso era preciso fazer algumas coisas como catar ossos e vidros para vender no ferro velho ou, quando acontecia de ter a quermesse do senhor João Vicente por perto, e ele precisasse de crianças para empurrar cavalinho, sempre nos dava uns r$ 500 (réis) por noite.
Ou ainda ajudar em alguma coisa que exigisse menores para fazer: vender cartelas de tombola, ajudar no tiro ao alvo. Para nós, crianças, era muito bom e o dinheiro que eu ganhava empurrando cavalinhos era um divertimento.
Então o senhor João Vicente era para muitos garotos uma fonte de renda. Eu tinha réis 2000, e disse aos demais colegas da minha idade: “eu vou ao mercado comprar os gibis usados”.
E assim eu fiz. Pela primeira vez, eu bolei um roteiro e fui subir a Rua Pereira Lima até um posto de gasolina e desci a Rua Dr. Mascarenhas, até a altura do Hospital Penido Burnier. Lá peguei a direita e no Hospital Vera Cruz eu desci até o mercado municipal.
Comprei 10 gibizinhos com a Dona Henriqueta e voltei pelas mesmas ruas pelas quais eu tinha vindo, e criei alma nova quando cheguei ao Hospital Vera Cruz. Marquei bem aquele local porque também ali tinha uma cadeia. Mais um pouco e já avistei o Hospital Penido Burnier. Então eu respirei melhor e pensei: completei a minha aventura.
Alcancei a Pereira Lima, a Rua Sales de Oliveira, e finalmente a Carlos de Campos, onde eu morava no número 327. Muitos garotos me perguntavam se era verdade que eu havia ido sozinho até o mercado. Muitos achavam que era uma aventura. Com oito anos, essa foi a minha primeira Conquista.
The End.