Lição de uma criança.

Foram dias difíceis. Noite e após noite, a luta pela vida. Mas o inevitável aconteceu. O último suspiro. E finda a vida da honrada mulher, que tão amada foi por tantas pessoas, em especial, pelo seu sobrinho, um menino de dez anos, apenas, mas que está prestes a ensinar uma grande lição para a família.

Passaram-se alguns dias, depois daquela tarde chuvosa de despedida. Apesar de esperar, não estava sendo fácil para ninguém aceitar que tanta luta não foi capaz de impedir a morte. Será que não se lutou o suficiente? Pai, Mãe, todos questionavam, exceto o garotinho. Ele parecia não lembrar. Chorou no enterro, mas alguns dias depois, agia como se nada tivesse acontecido, como se não tivesse perdido ninguém, muito menos, sua tão próxima tia.

Era uma manhã de quinta-feira, oito dias após a lastimável perda da família. A vida precisava continuar. O luto tinha que ser abafado. Pai e filho seguiam para suas respectivas responsabilidades. Trabalho e escola. O pai, de cabeça baixa, triste, sem acreditar que sua cunhada morrera. O menino, caminhava na frente, brincando com uma pedra.

- Filho, como você? Não está sentindo falta de sua tia? Ela cuidou de você desde que nasceu.

Ao contrário do que esperava o pai, o garotinho continuou a caminhar na frente, como se estivesse completamente distraído com a tal pedra.

- Filho, estou falando com você. Por acaso não está ouvindo? - falou mais firme o pai.

- Estou.

- Meu filho, eu fiz uma pergunta. Sei que és muito novo, mas entende exatamente o que aconteceu. Quero que saibas que eu e sua mãe, bem... Estamos aqui para você, caso queira conversar.

- Eu sei, papai.

- Então, sobre sua tia...

- Papai, estou bem. Sinto saudades de titia, e vou sempre sentir. Mas ela morreu. E a gente precisa seguir adiante, pois estamos vivos. Um dia todo mundo morre. Alguns vão primeiro, como titia. Outros, depois. Amanhã, por exemplo, poderá ser eu; outro dia, o senhor ou a mamãe. Mas todo mundo um dia morre, não é?

O pai, admirado com o que acabara de ouvir, respondeu pensando nas inúmeras lições que tem aprendido com seu filho de dez anos, apenas.

- Você, meu pequeno, tem toda razão.

E pai e filho seguiram suas rotinas.

Uiara Aimê Sou Poeta Menor
Enviado por Uiara Aimê Sou Poeta Menor em 27/10/2018
Reeditado em 27/10/2018
Código do texto: T6487272
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