A lição do beija-flor
A lição do beija flor
O sol nascia tímido atrás de nuvens cinzentas e revelava um dia com aroma de terra molhada. Os matos ao longo da cerca à beira da estrada mostravam suas flores que pareciam sorrir e reproduziam a vida em sua plenitude. As poças de águas ainda presentes na estrada de areia e piçarra, deixados pela chuva do dia anterior, era um convite irrecusável para andar descalço correndo por entre aquela água barrenta. Ali, naquele sertão agreste e árido, época em que as árvores que antes, secas e sem folhas, ressurgiam reluzentes em cor viva, dava a impressão que a terra é verde.
Sentado na calçada de tijolo cru, aquela criança de corpo franzino e olhos arregalados, braços cruzados ao peito, olhava em direção ao sol como quisesse captar todos seus raios prá si. É que a noite tinha sido, para os padrões daquele lugar, muito fria. À frente de João uma revoada de cupins alados e apesar dos conselhos de seus pais, de não andar descalço na terra molhada e evitar resfriados e frieiras, levanto-se e saiu para a estrada dando saltos tentando capturar alguns daqueles insetos. Era irresistível.
Andando naquela estrada apertada entre matas e cercas, olhou à sua direita e viu vários pés de jurubebas com aqueles frutos redondos, tinha que colher alguns para brincar, como bolas de gude, com seus amigos. Mesmo descalço, resolveu entrar na roça passando entre os arames da cerca procurando evitar os espinhos que eram tantos espalhados pelo chão, visto que aquele mato era espinhoso do caule às folhas. Não tinha como evitar e vez em quando dava um grito baixinho de dor e retirava espinhos dos pés. Um pouco adiante de si, viu um beija flor pousar sobre seu ninho pequenino e redondo, parecia ter sido feito com muito cuidado, pendurado num galho da jurubeba.
Era uma ave pequenina muito ágil de vôos curtos e rápidos com uma penugem que reluzia a luz do sol. Decidiu afastar-se dali e já ouvia sua mãe ao longe reclamando consigo, tinha saído de casa descalço, sem camisa e sem a refeição da manhã. Voltou pra casa com sua mãe, certo que tinha desobedecido a seus pais, mas que não tinha feito nada demais. Não se sentia uma criança super protegida, apenas amado. Sentado à mesa tomando seu café da manhã ouvia os conselhos de seus pais, que era hora de vir para dentro de casa, o céu estava ficando carregado e poderia começar a chover a qualquer instante.
Sua mãe o ajudava a retirar algumas pontas de espinhos fincados na sola de seus pés enquanto lá fora caía uma chuva torrencial. Ali dentro de casa estava protegido e seguro, de chinelo nos pés, vestido numa camiseta, limpa e fresquinha, agora se sentia confortável e quentinho. Voltou seu pensamento para o ninho do beija flor, construído no galho da jurubeba sob uma folha grande. Era difícil uma ave predadora pousar naqueles galhos ou uma cobra subir naquele caule espinhoso. Era uma proteção natural. Proteção paterna.
Deu razão a seus pais, era um filho, e eles estavam apenas lhe protegendo. Aquele beija flor, era realmente, um sábio.
José Henrique