Pulsos
Ela saiu do banheiro e eu percebi que estava completamente nua, mesmo que não houvesse luz alguma no ambiente.
Não haviam segredos entre nós, à exceção dos que ela guardava.
e era essa assimetria que me mantinha ali,
com os olhos presos na silhueta dela.
E num instante a chama de um isqueiro iluminou todo o quarto e eu pude ver o seu rosto, com um cigarro preso nos lábios.
Tive impressão que ela viraria fumaça e desapareceria pela janela
como era de costume nos meus sonhos.
Talvez esse fosse só mais um dos meu delírios despertos,
e eu estivesse louco demais para separar a realidade
de desejos e saudade.
Fechei os olhos por dez segundos, contados nos dedos.
Quando abri, ela não estava mais lá.
Me levantei da cama, irritado e fui até maldita janela,
por onde ela havia fugido. E pude ver pelas pessoas lá embaixo,
que a vida seguia na normalidade.
E eu quase senti nojo do mundo que eu não queria mais fazer parte.
Fechei a cortina e virei as costas para o lado de fora.
Foi quando senti seus braços ao redor da minha cintura e o calor de seu corpo contra o meu.
Me virei e dei de cara com os seus olhos me encarando.
Me perguntava para onde ela havia fugido e se desapareceria novamente.
Ela me beijou nos lábios, como se soubesse o que eu estava pensando, e tocou em meus pulsos rasgados.
- Falta pouco, meu amor. Estamos quase lá. Não vou a lugar nenhum.
Ela sorria
e eu tive a certeza que enfim, tudo ficaria bem.