Confidencial
Ele estava calado havia alguns dias. Se limitava ao bom dia, boa noite. Eu o via na hora de folga, sentado com a cabeça baixa ou mirando o horizonte. Depois que a avó morreu ficou sem condições de manter o aluguel e foi morar nos fundos da padaria. Um combinado com o patrão para ajudá-lo, ficando boa a situação para ambos, já que agora sempre tinha alguém ali para espantar os intrusos no meio da noite.
Um dia ele me contou que queria ver a mãe em São Paulo. Ela se mudou para lá logo no primeiro ano do seu nascimento. Deixou-o ainda bebê com a avó para tentar um trabalho melhor e mandar recursos para os dois. Mas após cinco anos, se casou, teve outros filhos e sua ausência foi cada ano maior. O marido não sabia que ela já tinha um filho. Ele ligou algumas vezes para ela mas não teve o consentimento para visitá-la.
O pai, ele nunca soube quem era. A avó suspeitava que era o ex-patrão da sua mãe. Um advogado influente na pequena cidade. Jamais se procuraram. Talvez nem suspeitasse da paternidade fora do casamento.
Era um homem bonito, sem muito estudo mas se preocupava em ler o que podia. Tinha uma boa apresentação e isso o fazia cheio de charme. Os olhos tristonhos as vezes sorriam e era bonito vê-lo passar as mãos pelos cabelos crescidos ou conversar bobagens com os colegas. Eram momentos raros de descontração.
Eu queria oferecer-lhe a mão amiga, ser confidente, curar suas feridas. Mas ele nunca demonstrou algum interesse, nunca devolveu sequer um olhar... Na última sexta, depois que me aproximei para cumprimentá-lo pelo aniversário, ele agradeceu tão rapidamente que tive dúvidas se deveria tê-lo felicitado.
O que me dá coragem é que não o vejo com nenhuma mulher, mas também não sei se olharia para mim, afinal sou só o ex-colega do grupo escolar; um "chegado" sem talento para futebol e delicado demais para ser um dos seus amigos de bar.
Os dias se passam e ele não vê que eu filmo o seu caminhar, que oro por ele e que faria de tudo para ser o seu par.
Ele estava calado havia alguns dias. Se limitava ao bom dia, boa noite. Eu o via na hora de folga, sentado com a cabeça baixa ou mirando o horizonte. Depois que a avó morreu ficou sem condições de manter o aluguel e foi morar nos fundos da padaria. Um combinado com o patrão para ajudá-lo, ficando boa a situação para ambos, já que agora sempre tinha alguém ali para espantar os intrusos no meio da noite.
Um dia ele me contou que queria ver a mãe em São Paulo. Ela se mudou para lá logo no primeiro ano do seu nascimento. Deixou-o ainda bebê com a avó para tentar um trabalho melhor e mandar recursos para os dois. Mas após cinco anos, se casou, teve outros filhos e sua ausência foi cada ano maior. O marido não sabia que ela já tinha um filho. Ele ligou algumas vezes para ela mas não teve o consentimento para visitá-la.
O pai, ele nunca soube quem era. A avó suspeitava que era o ex-patrão da sua mãe. Um advogado influente na pequena cidade. Jamais se procuraram. Talvez nem suspeitasse da paternidade fora do casamento.
Era um homem bonito, sem muito estudo mas se preocupava em ler o que podia. Tinha uma boa apresentação e isso o fazia cheio de charme. Os olhos tristonhos as vezes sorriam e era bonito vê-lo passar as mãos pelos cabelos crescidos ou conversar bobagens com os colegas. Eram momentos raros de descontração.
Eu queria oferecer-lhe a mão amiga, ser confidente, curar suas feridas. Mas ele nunca demonstrou algum interesse, nunca devolveu sequer um olhar... Na última sexta, depois que me aproximei para cumprimentá-lo pelo aniversário, ele agradeceu tão rapidamente que tive dúvidas se deveria tê-lo felicitado.
O que me dá coragem é que não o vejo com nenhuma mulher, mas também não sei se olharia para mim, afinal sou só o ex-colega do grupo escolar; um "chegado" sem talento para futebol e delicado demais para ser um dos seus amigos de bar.
Os dias se passam e ele não vê que eu filmo o seu caminhar, que oro por ele e que faria de tudo para ser o seu par.