"O QUE É QUE EU VOU FAZER/ COM ESSA TAL LIBERDADE?”
 
“O que é que eu vou fazer/ Com essa tal liberdade?/ Se estou na solidão/ Pensando em você (...)”. Versos de uma canção do Alexandre Pires, nosso cantor de Uberlândia... Sem dúvida, uma bela canção romântica, mas o que me inspira mesmo são os versos que abrem a letra: “O que é que eu vou fazer/ Com essa tal liberdade?”. E aí o pensamento já é cavalo solto a pleno galope.

Dentre as belíssimas palavras de nosso amplo vocabulário, Liberdade é sem dúvida uma das mais relevantes. Ser livre é o desejo mais antigo do Homem. A Filosofia relata desde os tempos mais remotos a incessante busca do Homem pela Liberdade, esse sonho de todos nós. Muitas lutas importantes já foram travadas em seu nome, e muitas bandeiras a abrigaram e ainda a abrigam como lema: “Liberdade ainda que tardia”, por exemplo, é nossa Minas. Mas, que ironia! Ser livre é pior que a própria prisão, quando não se sabe o que fazer com a Liberdade.

Um pássaro por muitos anos numa gaiola se acostuma. Abra a porta do cativeiro e o motive a voar. Ele não o fará, mesmo sabendo-se dotado de asas fortes e potentes. Pelo contrário, permanecerá estático, parado, ainda que suspeite de céus com infinitos azuis à sua espera. Ganhar a amplidão do espaço sideral, voar lonjuras ao embalo dos ventos é extremamente atraente, mas assustador para quem nunca experimentou nem mesmo uma simples brisa além dos limites de uma gaiola.

Sim, a Liberdade é fantástica, mas aterrorizante, quando não se sabe o que fazer com ela. E a Liberdade, esta enigmática senhora, não se dá assim de graça, por um dá cá aquela palha. Desde as mais priscas eras, do seu trono de rainha ela olha o mundo com olhos complacentes, mas tem seu preço: “Me conquiste, me cultive”. Do contrário, a resposta é um adeus.

“Lá em cima do piano tem um copo de veneno, quem bebeu morreu”. A música, tal qual a Liberdade, diviniza e atrai, mas o copo de veneno seduz pelo conteúdo, é perigo e não perdoa. E eu aqui pensando na canção de Alexandre Pires e seus versos que me provocam: “O que é que eu vou fazer com essa tal Liberdade?/ Se estou na solidão/ Pensando em você...”. Sim, eu penso em mim, penso em você, penso em todos nós.