MILAGRE. GUIMARÃES ROSA.

Evidente que os gostos de leitura são variados, múltiplos. Não sou apreciador de alongados romances, de uma certa verbiagem que ao invés de tratar a época e suas ideias, com atavios de marcantes sentimentos, descrevem ambientes e paisagens.

E nisso estão os regionalismos, um pouco maçantes. Fico deles a uma certa distância, mas não dos bons, José Lins do Rego e especialmente Pedro Nava, tragicamente morto. Mas cedo espaço a um dos mais festejados, Guimarães Rosa, um místico, até na antevisão da morte.

“Quando nada acontece, há um milagre que não estamos vendo”. Uma sentença da realidade.

A uns a cegueira tem porta aberta permanente, é imanente, aderente, como visgo de jaca, quase um ácido ribonucleico. A outros é parcial e faz ver alguma coisa. Nota-se que alguma luz passa pelas frinchas da inteligência que vai do desconhecido ao desinteresse. O último bafejado pela insistente indiferença de um Estado despreocupado com o coletivo, voltado para o pessoal conceito do “L’ Etat Ce Moi”, mesmo distante do deposto Rei Sol, Bastilha, hoje, o “Estado Somos Nós”, a classe política que o povo desnudou pela consciência e despacha pelo voto. Já vão alguns para o cadafalso dos "sem mandato". Digam cadeiras do Senado onde não mais sentará o odor desfavorável. Assim também na Câmara Federal.

Ficam ao largo da esperança e do novo, aqueles que o milagre não estão vendo, os que ficaram na estrada pelo despropósito de não alcançarem pela inteligência a lógica que construiu a história.

Mas a reboque respirarão o oxigênio dos novos ventos, a não ser que continuem submersos no dióxido de carbono que por longo tempo inalaram.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 22/10/2018
Reeditado em 22/10/2018
Código do texto: T6483398
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