POR OUTRA BANDEIRA...
 
 
 
Gosto dos ambientes virtuais, das pessoas  que por ele transitam. Gosto de poder mostrar meus singelos versos, minhas figurinhas, receber os comentários calorosos e carinhosos dos amigos... E deixar os meus. Mas preciso confessar, esses espaços não estão me fazendo bem: ando agoniada, de garganta fechada, uma sensação de que não encontro meu lugar...
 
Tenho estado descontente. Tenho visto muita feiura e a feiura não faz bem a ninguém... Essa feiura, que longe de estar ligada a algo físico, vem de outras vertentes. A feiura fere a poesia da vida, o prazer da alegria, o território da concórdia. Tenho visto a feiura moral e abstrata e essa feiura dói. Entra pelos olhos, desce pelo estômago, feito bala ricocheteando nos paredões de um canyon. A feiura pede passagem, pede caminho e vai se alojando em nossas paredes internas, sem mesmo pedir licença. E ali se instala para doer e sangrar.
 
Ando triste com a feiura das almas. Ando triste por causa das pessoas. Penso onde foi que nos desencontramos. Onde foi que nos dividimos, para estarmos assim tão hostis, tão distantes uns dos outros — ou será que sempre estivemos, apenas não percebíamos? Fato inegável é que estamos nos fechando em pequenas ilhas. E como ilhas mais e mais nos isolamos... Cada um na sua tribo. Será que é assim mesmo que tem que ser?
 
As Redes, lugares sociais — que ironia! — se tornaram campo de batalha, de uma guerra que não se explica. Ou serei eu que não sei entendê-la? Talvez seja. Mas por mais que eu queira, não consigo. Não posso entender as léguas que andam nos separando uns dos outros. Não que eu ache que as pessoas devam ter os mesmos pensamentos, seguir a mesma direção. O mais saudável é que as pessoas tenham mesmo opinião formada e por ela se posicionem — este, aliás, é o princípio básico da liberdade rezado e preconizado por toda Democracia. O que me assusta é a forma como lidam com as próprias divergências, não conseguindo preservar as regras básicas da convivência humana, não conseguindo manter o mínimo de respeito ou de boa educação.
 
De onde essa sede de agredir, de humilhar, de ofender o próximo? E aqui o próximo é, muitas vezes, literalmente um parente, um familiar. Sentimentos, atitudes, tudo tão banalizado como se tivéssemos sido privados dos princípios mais elementares da boa convivência. O nível de ofensas é tão profundo que custa-me crer. O que vejo é um festival de sandices, as paixões humanas mais remotas, dando o tom, aflorando o que de mais bizarro escondem em si. É assustador, e não faz bem, não pode fazer bem a ninguém, não é possível que faça...
 
Direita, Esquerda, Centrão e Centrinhos mais pra lá que pra cá, ou mais pra cá que pra lá... Será que não daria para expormos nossas diferentes ideias, tendo a bandeira da Paz como pilar único e indissolúvel? Será que é tão difícil manter a linha e os padrões básicos da gentileza, mesmo quando nossas opiniões divergem? Ninguém tem que ser igual a ninguém: nem por isso precisa esquecer que pertence a uma só espécie: a Humana.
 
Provocações, alfinetadas, mentiras, meios ilícitos, ofensas, humilhações, subterfúgios, calúnias, difamação e má fé, nunca nos levarão a qualquer lugar que preste. Esse conjunto de más atitudes e sentimentos pequenos apenas nos tornará cada vez mais odiosos, fará de nós ferrenhos odiadores... Nós, que somos seres interdependentes, precisando muito — e a todo instante, uns dos outros.
 
A forma como se conduz essa disputa eleitoral, verdadeiro campo aberto de guerra, só tem contribuído para o cultivo da discórdia e da desunião. Caminhamos para o caos e, sinceramente, enfraquecidos, fragilizados assim, com o ódio e o rancor injetados nas veias, não vejo que futuro melhor poderemos construir como Nação.