Somos famintos de pele...

Não há no mundo outra forma de contato mais submerso, denso e estreito do que o contato do maior órgão do corpo: a pele. A troca que pode ser auferida, a sintonia canícula, a sinergia, o calor, a voracidade e o toque insigne de um corpo no outro, seja entre lençóis, seja coberto por água ou na extensão das bocas, a pele é indubitavelmente um condutor de energia humana constante entre duas almas, muito parecido com a lei de Ohm.

Os seres humanos só começaram a usar roupas em torno de 72 mil anos atrás, quando os caçadores passaram a curtir pele de animais para se protegerem do frio e da chuva, no entanto a roupa natural envaidecida que nos envolve é a que nasce conosco. Nossa pele, uma pele que pode ser tocada, beijada, mordida, lambida, cheirada, arranhada, lambuzada, hidratada, arrepiada, apalpada, sentida, eximida e celebrada todos os dias...

As peles se tornam os campos elísios do prazer, o decálogo das sensações está na pele, o pulsar vociferante das veias que podem ser sentido. Na pele podem ser escritas marcas inesquecíveis de amor ou marcas de dor, é como a xilogravura chinesa, mas na carne o material que constitui os amantes.

Na impureza que é pura quando o motivo é prazer, o ato é carnal, pele nua exposta é instinto primitivo e a "etologia" humana explica o desejo, a fome incontrolável de pele que dá fogo, consórcio extático de fazer amor e a cada estocada, socada forte no fundo como a sequencia de Fibonacci faz unir as peles no vai e vem sem parar, coladas, roçando, unidas como se fossem uma só até o êxtase.

A fome de pele e de carinho degeneram o homem, é como a doença de Huntington que degenera e causa a morte das células do cérebro, acabando gradualmente com o sistema nervoso. Não ter a pele que te satisfaz até a alma é sinônimo de abstinência cruel, dá saudade. Eu tenho fome de pele, só há uma pele que abrasa a minha, que quando toca queima, essa pele é mais rara que o Ástato, é única, é macia, é notável como a vigésima terceira letra do alfabeto grego, simbolo da psicologia, a pele que me apraz me laça como numa gineteada e me faz suspirar...

Nós, seres frágeis nos alimentamos afetivamente de pele como os simulídeos se alimentam de sangue, somos "simulídeos" ávidos de pele, sugamos carinho, atenção, bebemos da presença do outro, somos ávidos por carícias, abraços ternos, somos famintos de afeto, nos tornamos dependentes do aconchego de outrem, todos somos famintos de alguém em especial...

Eu tenho fome de uma única pele e de alguém em especial que me faz tremer...

"O homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu" (Max Weber)

Eden Mendes
Enviado por Eden Mendes em 21/10/2018
Reeditado em 21/10/2018
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