O Símbolo
do Nordeste
1. Estimulado pela minha amiga Naline Carvalho, advogada, no momento morando nos Estados Unidos, andei querendo saber qual seria o "Símbolo do Nordeste". Não o encontrei, depois de rápida pesquisa. Arrisco-me, então, a dar minha opinião.
2. No primeiro momento, lembrei-me da asa branca, do juazeiro, do mandacaru e do nosso aguerrido jumento, hoje, literalmente abandonado pelos seus antigos donos; uma imperdoável ingratidão. Sinto muita pena dele. Na minha infância, convivi com os jegues, servindo-me deles, no sertão do Ceará.
3. A asa branca. O pernambucano Luiz Gonzaga, numa saudável parceria com o cearense Humberto Teixeira, em dois baiões - "Asa branca" e "A volta da asa branca" - imortalizaram esse belo pombo, ligando-o de certa forma ao Nordeste e à sua gloriosa gente.
4. Nos dois baiões eles dizem que, declarada a seca, a asa branca se manda, foge, abandona o sertão nordestino. E, atenta aos relâmpagos e trovões pros lado do Nordeste, ela volta, assim que que as primeiras chuvas molham o chão nordestino, certa de que o inverno será bom. Não a chamaria de ingrata: é a lei da sobrevivência.
5. A asa branca podia ser o símbolo do Nordeste? Creio que não. Não é um pássaro com raízes nordestinas. Não é vista somente no Nordeste brasileiro. Suas asas também enfeitam os céus de outros países latino-americanos, é o que dizem os livros e o Google.
6. O juazeiro. É, talvez, a árvore mais acolhedora do Nordeste. Mantém-se frondoso e dando aconchegante sombra em tempos de seca causticante. Enfrenta, sem chiar, a secura atroz do solo sem água, sem perder uma só de suas folhas, que permanecem, o tempo todo, verdinhas,verdinhas. Mas, não sei por que, não vejo o juazeiro como o símbolo do Nordeste.
7. E o meu querido jumento? "Animal sagrado", disse-o Luiz Gonzaga. Pelo padre Antônio Vieira, não o do estalo, mas o cearense, foi chamado, carinhosamente, de "nosso irmão". Foi imortalizado nos versos de Patativa de Assaré e nos acordes da sanfona do Rei do baião.
Sobre o jegue, dando uma de seu advogdo, escrevi longa crônica, que anda voando por aí. Também o jegue, com todos os seus méritos, para mim, não deve ser o símbolo do Nordeste.
8. O mandacaru. Posso vê-lo, sim, como símbolo do Nordeste, com seus espinhos pontiagudos e sua flor, uma das mais mimosas do semiárido brasileiro. É uma "fulô" diferente das outras. Logo, direi porquê.
9. Por que me inclino pelo mandacaru. Antes de mais nada, pela sua proverbial e evidente resistência às intempéries climáticas que castigam o Nordeste. Identifica-se por isso com as pessoas daquelas plagas, todas, antes de tudo fortes, lembrando o que disse delas o Mestre Euclides da Cunha.
10. E mais: o mandacaru nasce e cresce em qualquer lugar, até nas cumeeiras dos ranchos mais humildes do sertão. É plantado pelos passarins e pelo vento que, com a ajuda de Deus, espalham sua semente nos quatro cantos do Nordeste.
Retém água no seu caule e o seu bagaço alimenta bovinos, ovinos, suínos e caprinos, em tempos de cruel estiagem.
11. Romântico, o mandacaru dá uma "fulô", cujo encanto, exótico e puro, inspira poetas, repentistas, escritores, compositores e cantadores.
Vejam o que a poetisa Célia di Oliveira diz no seu poema "FLOR DO MANDACARU" : - "Linda noiva das noites quentes,/ visível em toda a escuridão/ tamanha é a tua brancura,/ que faz de ti a mais bela do Sertão.
== Perfumas maiores distâncias,/ alivias espinhos vizinhos teus,/ pena que morres a cada noite/ para tristeza de quem pouco te leu.
== Sim, és letra para poema,/ soneto, livro e canção./ Muito pode-se falar/ da flor que dá no coração./ A flor do mandacaru.../ do coração nordestino..."
12. A "fulô" do mandacaru só nasce à noite e murcha, mal o sol rasga o horizonte. Como as estrelas do céu, ela aguarda a noite chegar para aparecer, mais encantadora, mais conquistadora. E, como disse, some, antes do mundo clarear: Se escondendo dos maus olhares? De mãos buliçosas e impuras? Quem sabe! Ela é mesmo diferente das outras flores nordestinas...
13. Por tudo isso, permitam-me escolher o mandacaru, com seus espinhos e sua linda "fulô" (gosto de chamá-la assim!) como o "Símbolo do Nordeste", sem me molestarem as opiniões contrárias.
14. Fecho a página, destacando que o mandacaru é também mensageiro de uma boa notícia; talvez aquela que o Nordeste mais gosta de receber, ou seja, que vai chover.
Gonzaga (1912-1989) e Humberto Teixeira (1915-1979) dizem, no "Xote das meninas", que o "Mandacaru, quando fulora na seca/ É o sinal que a chuva chega no Sertão".
Quem é do Nordeste sabe que isso é verdade.
do Nordeste
1. Estimulado pela minha amiga Naline Carvalho, advogada, no momento morando nos Estados Unidos, andei querendo saber qual seria o "Símbolo do Nordeste". Não o encontrei, depois de rápida pesquisa. Arrisco-me, então, a dar minha opinião.
2. No primeiro momento, lembrei-me da asa branca, do juazeiro, do mandacaru e do nosso aguerrido jumento, hoje, literalmente abandonado pelos seus antigos donos; uma imperdoável ingratidão. Sinto muita pena dele. Na minha infância, convivi com os jegues, servindo-me deles, no sertão do Ceará.
3. A asa branca. O pernambucano Luiz Gonzaga, numa saudável parceria com o cearense Humberto Teixeira, em dois baiões - "Asa branca" e "A volta da asa branca" - imortalizaram esse belo pombo, ligando-o de certa forma ao Nordeste e à sua gloriosa gente.
4. Nos dois baiões eles dizem que, declarada a seca, a asa branca se manda, foge, abandona o sertão nordestino. E, atenta aos relâmpagos e trovões pros lado do Nordeste, ela volta, assim que que as primeiras chuvas molham o chão nordestino, certa de que o inverno será bom. Não a chamaria de ingrata: é a lei da sobrevivência.
5. A asa branca podia ser o símbolo do Nordeste? Creio que não. Não é um pássaro com raízes nordestinas. Não é vista somente no Nordeste brasileiro. Suas asas também enfeitam os céus de outros países latino-americanos, é o que dizem os livros e o Google.
6. O juazeiro. É, talvez, a árvore mais acolhedora do Nordeste. Mantém-se frondoso e dando aconchegante sombra em tempos de seca causticante. Enfrenta, sem chiar, a secura atroz do solo sem água, sem perder uma só de suas folhas, que permanecem, o tempo todo, verdinhas,verdinhas. Mas, não sei por que, não vejo o juazeiro como o símbolo do Nordeste.
7. E o meu querido jumento? "Animal sagrado", disse-o Luiz Gonzaga. Pelo padre Antônio Vieira, não o do estalo, mas o cearense, foi chamado, carinhosamente, de "nosso irmão". Foi imortalizado nos versos de Patativa de Assaré e nos acordes da sanfona do Rei do baião.
Sobre o jegue, dando uma de seu advogdo, escrevi longa crônica, que anda voando por aí. Também o jegue, com todos os seus méritos, para mim, não deve ser o símbolo do Nordeste.
8. O mandacaru. Posso vê-lo, sim, como símbolo do Nordeste, com seus espinhos pontiagudos e sua flor, uma das mais mimosas do semiárido brasileiro. É uma "fulô" diferente das outras. Logo, direi porquê.
9. Por que me inclino pelo mandacaru. Antes de mais nada, pela sua proverbial e evidente resistência às intempéries climáticas que castigam o Nordeste. Identifica-se por isso com as pessoas daquelas plagas, todas, antes de tudo fortes, lembrando o que disse delas o Mestre Euclides da Cunha.
10. E mais: o mandacaru nasce e cresce em qualquer lugar, até nas cumeeiras dos ranchos mais humildes do sertão. É plantado pelos passarins e pelo vento que, com a ajuda de Deus, espalham sua semente nos quatro cantos do Nordeste.
Retém água no seu caule e o seu bagaço alimenta bovinos, ovinos, suínos e caprinos, em tempos de cruel estiagem.
11. Romântico, o mandacaru dá uma "fulô", cujo encanto, exótico e puro, inspira poetas, repentistas, escritores, compositores e cantadores.
Vejam o que a poetisa Célia di Oliveira diz no seu poema "FLOR DO MANDACARU" : - "Linda noiva das noites quentes,/ visível em toda a escuridão/ tamanha é a tua brancura,/ que faz de ti a mais bela do Sertão.
== Perfumas maiores distâncias,/ alivias espinhos vizinhos teus,/ pena que morres a cada noite/ para tristeza de quem pouco te leu.
== Sim, és letra para poema,/ soneto, livro e canção./ Muito pode-se falar/ da flor que dá no coração./ A flor do mandacaru.../ do coração nordestino..."
12. A "fulô" do mandacaru só nasce à noite e murcha, mal o sol rasga o horizonte. Como as estrelas do céu, ela aguarda a noite chegar para aparecer, mais encantadora, mais conquistadora. E, como disse, some, antes do mundo clarear: Se escondendo dos maus olhares? De mãos buliçosas e impuras? Quem sabe! Ela é mesmo diferente das outras flores nordestinas...
13. Por tudo isso, permitam-me escolher o mandacaru, com seus espinhos e sua linda "fulô" (gosto de chamá-la assim!) como o "Símbolo do Nordeste", sem me molestarem as opiniões contrárias.
14. Fecho a página, destacando que o mandacaru é também mensageiro de uma boa notícia; talvez aquela que o Nordeste mais gosta de receber, ou seja, que vai chover.
Gonzaga (1912-1989) e Humberto Teixeira (1915-1979) dizem, no "Xote das meninas", que o "Mandacaru, quando fulora na seca/ É o sinal que a chuva chega no Sertão".
Quem é do Nordeste sabe que isso é verdade.