A Dominadora de Leões - Prólogo
— Não, eu não quero levantar. — reclamo baixinho me contorcendo entre a cama e o edredom, enquanto o despertador do celular toca “Touch Too Much” do AC/DC. Espero mais alguns minutos, tentando me convencer de que tenho um bom motivo pra levantar em uma sexta feira, e lembro que tenho, contas a pagar e um emprego a perder. Dou um salto da cama, coloco uma calcinha, calço uma sandália amarela, que é minha cor favorita e vou para o banheiro. A água cai sobre o meu cabelo e passa pelo meu rosto, dando um toque agradável. Termino o banho, pego a toalha e vou me arrumar o mais rápido possível. Ainda não estou tão atrasada.
— Merlin. — É o meu jeito de chamar Merda, uma mania que carrego desde os 13 anos, em brincadeiras com os amigos.
Cinco chamadas da minha chefe. Respiro fundo pra retornar a ligação. O que será que ela quer?
— Oi Marina, você me ligou? — pergunto tentado parecer agradável.
— Sim. Entre uma hora mais tarde hoje. Quero que você vá a uma reunião comigo. — Ela ordena.
— Sim. Ok.
Desligo o celular, e vou me arrumar com mais calma, agora que ganhei uma hora. Escolho uma saia preta social e uma blusa verde militar pra ir a essa reunião, que eu não faço a mínima ideia de com quem seja.
O metrô esta quase vazio, o que é uma extrema raridade. Eu tenho um sentimento bipolar de amor e ódio pelo metrô de são Paulo. Quando tá vazio é um amor, mas quando tá cheio é torturante, aqueles homens porcos me tocando, gente comendo salgadinhos e as conversas paralelas de cada grupo de estudante me irritam, mas faz parte do convívio social, sempre digo isso comigo mesma. Coloco o fone de ouvido assim que entro, toca “Skyfall” da Adele, mas não é o melhor momento pra curti essa música, então coloca a minha playlist ‘Até o mundo acabar’, que começa com ''Miss Nothing'' da The pretty Reckess. Finalmente cheguei, entro e dou bom dia para Karen, a recepcionista, ela tem cabelos ruivos cor de fogo, é extremamente alegre. Vou pra minha sala checar os emails, mas antes lembro de pegar um café na cozinha. Eu gosto do meu trabalho, ganho bem, não é tão cansativo, só as vezes quando minha chefe chega de péssimo humor. Nossa você tem 24 anos, agora você é adulta Bianca. Me perco nesse pensamento.
— Bom dia. — Diz marina entrando na sala.
— Bom dia. — respondo com um largo sorriso, tento diminuí-lo pra não parecer falsa.
— Esta pronta?
— Estou sim. Que reunião é essa? — pergunto esperando uma resposta brusca, mas ela parece esta de ótimo humor.
— É uma reunião com alguns dos investidores do projeto que estamos tentados assumir. Quero que você anote tudo que achar importante na reunião e depois me mande como um Feedback. Por email!
Aceno com a cabeça que sim, levanto e pego a minha bolsa, já sei que ela vai sair às pressas.
São dezoito e vinte. A reunião acabou, anotei bastante, fui a ultima a levantar da grande mesa de madeira escura.
— Eu vou direto pra casa Marina. —digo a ela, enquanto caminhamos pra fora da sala. Ela me finta um olhar de tudo bem, acena com a cabeça que sim e começa a conversar com os dos executivos da reunião. Ela sempre muito bajuladora. Caminho em direção ao elevador, ele abre alguns segundos depois, esta vazio do jeito que eu gosto. Entro e já coloco a mão na bolsa pra pegar os fones de ouvido, quando uma mão aparece entre a porta do elevador, impedindo que se feche.
— Boa noite. Ta descendo? — diz um homem alto.
—Sim. — respondo. Puta merda que gato. O pensamento me vem.
Estamos no Nono andar, ele fica do meu lado. Alto, cabelos loiros, olhos verdes, uma boca bem rosada e carnuda. Eu amo bocas. Nossa ele é bem padrãozinho gostoso. Finalmente o térreo. Ele me dar um largo sorriso e espera eu sair primeiro. Sigo andando pra fora do prédio e caminho por cinco minutos, até chegar ao metrô Fredique Coutinho, e coloco os fones, eu não vivo sem musica. O metrô para na estação republica, eu desço e vou em direção à saída. Esse horário é sempre caótico, as pessoas desesperadas para chegarem o mais rápido possível em casa, caminham feito manadas de Gnus, fugindo de um bando de leões. Consigo sair de dentro da estação depois de desviar da “manada”, sigo em direção à avenida São João e entro em uma loja de mangas e HQs que sempre frequento.
— Boa noite Shazam. — brinco com Eduardo, o dono da loja.
— Boa Bia. Chegou tua encomenda. — Ele diz em tom de orgulho por ter conseguido rápido. Pega uma sacola plástica amarela e me entrega. Eu retiro de dentro as quatro HQs Malrvels, edição original de 1994.
— Elas são lindas. — falo com felicidade obvia.
— Alex Ross é um gênio. — Ele completa.
Ouço um barulho de revistas caído no chão. Eu olho pro lado e é um rapaz mediano de óculos e cabelo curto. Esta vestindo uma camisa do The Police, parece bem nerd. Olha pra nós dois e pede desculpas. Tem um olhar triste e solitário. Eu me volto para o mister Shazam, apelido que dei porque ele é fanático pelo Shazam.
— Quanto ficou? — pergunto.
— Pra você, porque é de casa, só cinquenta.
— Tá certo. — Solto uma pequena risada.
Ao sair da loja dou uma olhada pra trás e reparo no garoto tristonho. Porque ele me chamou a atenção? Disperso rapidamente o pensamento e vou embora pra casa, agora ao som de Depeche mode.
— Ah, obrigada minha deusa. –desabafo me jogando no sofá ao chegar.
To morta de fome, coloco um pouco de arroz pra fazer na panela elétrica e separo alguns camarões que estavam congelados. Coloco-os em cima da mesa e vou tomar um banho. Quando volto o arroz já esta pronto e os camarões descongelados, pego uma frigideira vermelha media e acendo o fogo, derramo levemente um pouco de óleo de girassol sobre a frigideira. Coloco os camarões em cima e depois jogo leves pitadas de sal, vou virando-os conforme eles vão dourando, quando já estão quase prontos corto um limão siciliano e espremo em cima deles, ainda na frigideira em fogo baixo. O cheiro é maravilhoso e tentador, abre cada vez mais meu apetite. Desligo o fogo, pego alguns pimentões de variadas cores, um tomate e meia cebola, os corto em formas rústicas. Acendo novamente o fogo e jogo tudo dentro da frigideira, com o molho que o camarão deixou, deixo fritar em fogo médio por cinco minutos, sempre mexendo. Finalmente uma janta relativamente rápida e muito gostosa. Ligo a teve pra me fazer companhia enquanto devoro meu jantar.