Chuva é vida
Chuva é vida
Certa vez, ao sair do trabalho, por volta das 17:00 horas, fui surpreendido por uma adorável chuva. Chegou sem aviso ou indicação. Molhou minhas roupas e minha mochila. Fez outros pedestres correrem em busca de abrigo. Provavelmente causou transtornos a donas de casa que porventura tinham alguma roupa no varal.
A chuva, como fenômeno natural, pode ser prevista. Entretanto as previsões, como obra humana, podem falhar.
Então a chuva, às vezes, é uma surpresa.
Muitos, como as donas de casa que mencionei, dirão que a precipitação é (ou foi) uma má surpresa.
Mas para mim sempre foi motivo de alegria.
Desde criança tomei chuvas que faziam a maior parte das pessoas se esconderem. Sempre detestei guarda-chuvas e sombrinhas – trecos inúteis que não justificam sequer seu peso.
Naquele dia, lembrei-me de por quê gostar da chuva.
Depois de um dia enclausurado numa sala de concreto, sob um piso de concreto, sentado em uma cadeira de plástico e manuseando um computador de metal, o breve contato com a água vinda dos céus faz-me lembrar que estou vivo.
Ver toda aquela água descendo sobre o mundo – com ou sem seu consentimento – e garantindo a renovação de toda a vida que conhecemos é algo muito belo. Sentir essa água fazendo um desvio pelo meu corpo, enquanto se encaminha para o chão, é ainda mais precioso.
A vida flui em cada uma dessas gotas que a humanidade parece rejeitar. Presos em nossas selvas de concreto vivemos em ambientes artificiais. Sequer cogitamos aceitar uma pessoa molhada pela chuva, em qualquer ambiente, pois isso é deselegante.
Ora, o que vestimos não pode parar a chuva. Mas porque quando tomamos chuva somos privados de viver?
As roupas em breve secarão, pois aquela água incômoda seguirá seu ciclo natural. Evaporará e um dia voltará a cair.
Afinal, só com a chuva podemos ter vida.
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Texto também publicado no blog vamosfalardisso.com.br