TRAMAS, CONTEXTOS, REFLEXÕES TEÓRICAS E A IDENTIDADE NACIONAL BRASILEIRA

O Prof. Dr. Eugênio Rezende de Carvalho, de forma didática traz questões pertinentes sobre identidades, promovendo um estudo teórico, pontuando as contribuições e as reflexões necessárias para uma maior compreensão.

Como podemos ver o trabalho de construção da história está entrelaçado com a estruturação da memória. A identidade, a cultura, a história são conceitos que caminham na mesma via. Para compreender uma sociedade é preciso conhecer a identidade daquele “povo”, a cultura que permeia aquele grupo de indivíduos.

Eugênio, emblematicamente nos convida a superar o essencialismo, promovendo ruptura na falsa dicotomia identidade coletiva verso identidade individual. Levando em consideração os espaços de experiências e os horizontes de expectativas. Com perguntas diretas Eugênio nos faz pensar sobre o que é identidade, pra que identidade, somos todos iguais.

Com uma linguagem teórica Eugênio nos apresenta as variantes do tempo histórico, suas categorias, narrando as partes do tempo histórico, explanando as camadas temporais. Um contexto que nos faz repensar sobre a nossa identidade nacional.

A ideia de nação ou nacionalismo provoca uma heterogenia entre os grupos. Eric Hobsbawn, em sua obra “Nações e Nacionalismos” de 1780, utilizando-se de parábolas e conceitos a priori, com uma intuição historicamente voltada para a construção de termos, ou mitos de origem da nação que se estrutura em uma realidade completamente real ou uma recriação de cópias de um mundo quase perfeito.

Nação dentro do contexto histórico é algo que vem depois do sentimento de nacionalismo que existe em cada um de nós, nação é algo indefinido, mutável, ambíguo e de definição coletiva ou individual. Nação é um dos “inúmeros mitos” construídos ao longo da história da humanidade. Ao falar de mito entramos no campo do saber, trabalhado por Platão, no livro “O Banquete”, onde ele bravamente descreve o mito de origem e os inúmeros mitos que fazem de nós, seres humanos, homens, mulheres e cidadãos.

Voltando ao texto de Eugênio, em sua narrativa nos deparamos com um diálogo acentuado entre diversos pensadores, destacando a contraposição entre Sérgio Costa e Joaze Bernardito, com objetivo de promover a desconstrução e a construção da identidade cultural.

Sérgio Costa, ricamente descreve a construção da ração negra no Brasil. Apresentando a desigualdade social que marca os limites entre brancos e não brancos. Um estudo racial que não se utiliza de conceitos biológicos para se estruturar. Costa enfatiza uma discussão para entender melhor a incompleta narrativa sobre a formação nacional brasileira, uma visão ampla das identidades sociais e suas influências no contexto sociopolítico.

Já Joaze Bernardito, procura discutir as propostas de ação afirmativa no contexto brasileiro de relações raciais, marcadas pela popularização da crença tanto no mito da democracia racial quanto no ideal de embranquecimento. Surgindo um problema de classificação negativa para os negros no Brasil. Como solução Bernardito destaca a busca de militantes negros, objetivando a minimização da desigualdade, revalorizando a identidade negra.

Na obra “Preta no Branco”, podemos notar um trabalho voltado para as relações raciais no Brasil, abstraindo a influência indígena e centrando-se na euro-africana.

Partindo deste pressuposto que a ideologia racial brasileira foi elaborada por uma intelectualidade elitizada, Skidmore promovendo investigação mais profunda do período que compreende entre os anos de 1870 a 1930, buscando respostas para os problemas a respeito da teoria racial como um fenômeno social que influenciou e influenciará no futuro da nação brasileira.

Assim podemos perceber que foram realizadas diversas análises a respeito de tal tema buscando justificar a teoria racial do Brasil. Vale lembrar que Thomas Skidmore trabalha as três principais escolas teóricas do pensamento racial, destacando como primeira a escola etnológico-biológica que sistematizou sua formação filosófica, a segunda foi a escola histórica que representou as mais diversas diferenças entre as raças, colocando a branca como a superior e a terceira escola se pautava no darwinismo social que defendia um processo evolutivo que definia o começo com uma única espécie.

A história do negro no Brasil por muitos anos permaneceu nas regiões subalternas da historiografia, desde a institucionalização do ideal liberal, o qual abraçava a construção de uma nação brasileira livre e homogênea; uma transição socioeconômica que objetivava a fecundação de uma sociedade homogênea. E se necessário fosse o negro seria embranquecido. Eliminando a negritude do seio social, o negro deveria ser apagado da história brasileira.

No Brasil colonial os negros experimentaram uma realidade que se encarregou de mantê-los em uma situação de subalternidade, sendo alocados na base de uma sociedade sustentada pelo trabalho escravo. Os negros eram marginalizados pelas representações culturais que se sedimentaram no regime escravocrata.

Diversos pesquisadores, historiadores, antropólogos buscaram explicar a teoria racial e as transformações dentro da sociedade brasileira a partir da mestiçagem e das relações entre brancos e negros.

Até quando a cor da pele vai falar mais alto dentro da nossa sociedade, que arrasta o racismo desde os tempos da escravidão. Podemos compreender que o tema “ser negro” é uma análise quantitativa que nos remete a história de Fernand Braudel em “O mediterrâneo”. Os diversos percursos da história forçam a sociedade atual a imaginar a distância ou o tempo para estruturação do verbo “ser negro” em meio aos longos processos, constituindo os modelos, padrões, normas e regras raciais, como diria Weber um “tipo ideal” o qual a cultura negra sobreviveu, passando da condição de “coisa” para sujeito do processo histórico social.

O negro ao longo dos processos históricos sempre foi estereotipado por uma visão etnocentrista ou eurocentrista. Ao estudar tal conceito podemos compreender que é uma característica de quem só reconhece a legitimidade e validade das normas e valores vigentes na sua própria cultura ou sociedade. Tem sua origem na tendência de julgarmos as realidades culturais de outros povos a partir dos nossos padrões culturais.

As organizações negras são fundamentais na luta contra as desigualdades raciais no Brasil contemporâneo. Algumas delas têm uma longa história, que remonta ao século XIX, no tempo em que uma boa parte da população afro-brasileira ainda lutava para emancipar-se da escravidão. Outras foram criadas em resposta à discriminação e às péssimas condições de vida do negro no século XX.

É preciso romper com os padrões e finalmente tornarmos personagens que não mais serão vistos como figurantes, mas como protagonistas que objetivam tornar a nossa sociedade mais igualitária.

”Só se abate o preconceito acreditando na igualdade”. A nossa posição crítica, sustentando um espírito de argumentação e buscando uma definição mais “autêntica” da nacionalidade brasileira; fomentará a busca de uma história feita pela sociedade, não por um grupo elitizado, construindo condições para se redefinir uma identidade nacional que supere o mito da democracia racial.

Dhiogo J Caetano
Enviado por Dhiogo J Caetano em 16/10/2018
Código do texto: T6477949
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