O sorriso do meu amigo
Quem tem um amigo tem tudo, afirmava meu franzino avô com alma corpulenta. Roberto Carlos reinou cantando que queria um milhão deles. A divina providência deu-me de graça mais que um. No meu caso falo em unidades e não em milhão. Um mais chegado que um irmão, outro cúmplice nos tropeços e acertos, e um que sorri.
Isso mesmo, eu tenho um amigo que sorri. O sorriso deste amigo não foi feito por clareadores ou próteses para agregarem mais um acessório ao seu selfie. Não lhe faltariam recursos para isso. Tampouco aprendeu em algum destes cursos de autoestima ou como conquistar pessoas. Nasceu com ele.
Robinson Crusoé ao descrever seu encontro com seu amigo Sexta-feira reflete e entende que Deus desproveu muitas pessoas das melhores faculdades mentais para dar-lhes todas as qualidades para fazer e decidir o bem. No caso de meu amigo, vejo que Deus não poupou sabedoria, mas foi além dando-lhe um generoso e mágico sorriso.
Acho que meu sorriso é de chorar, mas de meu amigo esbanja fineza, simpatia e atenção. Se em seu velório o sorriso estiver no seu rosto imagino que não se ouvirá choros. Quando seus lábios abrem-se para sorrir é como tirar a tampa de um frasco de bálsamo. O ambiente se transforma com a fragrância alcançando todas narinas presente. O mesmo sorriso na face do garçom servindo uma porção amarga faria as papilas do cliente provar o doce. O general na batalha armado de tal sorriso converteria seus inimigos em aliados.
O poeta escreveu que as feras do campo refletem o poder de seu Criador, e com a licença da poesia arremato que tal sorriso me aponta a transbordante e sorridente graça de Deus a este que mal sabe sorrir.