Memórias de um faroleiro II

A embarcação era grande, de bandeira internacional. Cruzava o horizonte, no lusco fusco, paisagem sem igual. O oceano pacificamente permitia ser rasgado pelo gigante dos mares, que abria suas águas com destreza e grande elegância. Aos poucos o edifício que se equilibrava no convés principal, foi se enfeitando de muitas luzes assemelhando a uma cidade nos dias que antecedem a data do natal.
Mais tarde um baile, em trajes de gala, todos eles se juntarão para o grande evento, logo após o coquetel a ser servido pelo capitão.
Antes de entrarem no luxuoso salão, ele a recebeu no pé da escadaria. Estava num vestido escarlate digno das artistas de cinema; os cabelos louros presos num arranjo especial e na maquiagem suave, destacavam-se os belos olhos de esmeraldas que o encantara desde o primeiro dia que a viu num café. A barista conquistou o coração do abastado industrial. No início se sentia apenas encantada com os mimos que ele lhe fazia, mas depois foi sentindo o poder do seu magnetismo e mesmo havendo grande diferença de idade e de classe social, era fácil perceber o fascínio que atraía os dois corações.
Ele a conduziu vagarosamente para um local sossegado, onde o vento suave afagava o seu rosto e desalinhava as mechas soltas dos seus cabelos, meteu a mão no bolso e tirou uma caixinha preta. Os olhos dela estavam fixos no céu. Um mar de estrelas estava ali para testemunhar o pedido que ele lhe fez.
O rosto dela se iluminou, a pedra foi colocada em seu anular direito e ela ouviu a voz rouca no pé do ouvido:
- Casa comigo?
Um beijo delicado selou aquele momento, afinal a dama não poderia adentrar o baile com seu batom manchado. Eles riram e um garçom solícito se aproximou oferecendo champagne. Um violinista que aguardava na penumbra, tocou Noturno de Chopin e eles valsaram envolvidos numa bruma tão suave que a cena mais parecia um sonho... Um devaneio de um velho lobo-do-mar.

Cláudia Machado

Nota: Foto meramente ilustrativa. Extraída da web.