As cores das letras
Não sou eu quem escolhe as palavras, certas ou erradas.
Sim, são elas que me escolhem, ocultando-se no sótão de meu cérebro, naqueles nichos despercebíveis e ocultos. Um eterno brincar de Esconde Esconde, para se achar a hora certa e a medida exata.
Quando não percebidas, em outras ocasiões, brincam com minha boca de onde saem, às vezes, sem minha permissão.
No entanto, as tímidas palavras, mas persistentes, cutucam o cérebro, coçam a garganta, passam e-mails à minha pessoa, pois desejam a liberdade imediata. E se não as atendo no ato, ou elas desistem e morrem de impaciência; assim, como punição as esqueço de imediato, ou resistem até o fim e explodem exalando sentimentos e impressões.
Daí, não sou eu quem as escolhe, mas elas que vivem em mim, decidem a hora do parto, partindo em letras, traços, imagens, desejos e sons.
E ao partirem, tanto umas como as outras, deixam a casa limpa; porém vazia, querendo a alegria de novas palavras em família, correndo soltas em meu cérebro espaçoso e bobo.