A catarse do ônibus

Eu pareço legal, mas...

Hoje no ônibus, um moço resolveu sentar do meu lado, mesmo havendo outros assentos vazios. Até aí tudo bem, não gosto de sentar ao lado de desconhecidos, mas paciência. Na verdade, não gosto nem que conhecidos sentem ao meu lado, pois considero o ônibus um lugar sagrado, onde coloco o fone para escutar minhas músicas e olho para a janela com uma cara de tristeza, a fim de me sentir num clipe musical. Portanto, não gosto de ser visto (especialmente quando durmo de boca aberta e começo a babar) ou incomodado (salvo apenas quando é o moço que entra vendendo pão de queijo). Gosto de ficar lá curtindo meu momento (a famigerada catarse do busão). Ah, é no ônibus também onde mais reflito e onde mais me ocorrem coisas bizarras, como descreverei a seguir.

O moço sentou do meu lado. Já disse isso, né? Só que ao sentar, ele abriu as pernas de modo que quase fez um esparcato, só que sentado, me espremendo um pouco contra a janela. Respirei, contei até dez e fingi demência. Não satisfeito, o moço começou a abrir aqueles vídeos sem noção que enviam no Whatsapp e assistí-los num volume altíssimo. Se fosse uma coisa engraçada, eu nem ligaria, mas foi apenas a pior versão de Despacito que já ouvi, na voz de uma mulher que mais parecia ter engolido uma gralha, cantando tudo fora do ritmo. O pior não foi nem o barulho, foi ver o cara amarradão assistindo o vídeo. Tem gosto pra tudo, né?

"Mas tá, o que você fez Leonardo?"

Eu já estava levemente irritado e quase dando lugar ao ódio, mas lembrei de Gandhi e tive uma grande ideia. Aproveitei o meu resfriado e inventei de fingir uma crise de tosse. Logo, eu comecei a tossir feito uma metralhadora, escandalosamente, pra ver se ele se mancava. Vocês acreditam que o danado não se tocou, muito menos perguntou se eu estava bem? (eu estava fingindo, mas se eu tivesse mal mesmo, eu poderia morrer do lado dele que ele iria pensar que eu estava dormindo). NÃO ME DEI POR VENCIDO! Sou brasileiro, nunca desisto! Tive outra ideia! Aumentei o brilho do meu celular, coloquei meu celular bem visível para que ele pudesse ler o que eu estava escrevendo e digitei no Google: "sintomas de tuberculose". MANO, NÃO DEU 5 SEGUNDOS, o moço se levantou e trocou de lugar. Sim. Eu não presto. Mas pelo menos depois tive meu lugarzinho de volta só pra mim.

Tenham todos uma boa noite, usem fone no ônibus e respeitem o espaço do coleguinha!

Leonardo Salomon
Enviado por Leonardo Salomon em 10/10/2018
Código do texto: T6472817
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