NADIA GRITOU... QUEM QUER OUVIR?
De todas as categorias do Prêmio Nobel, invariavelmente o da Paz é entregue a algumas aberrações mundiais. Neste ano, se os cotados ganhassem o caso se repetiria. Os cotados eram os presidentes das Coreias do Norte e do Sul.
O mundo espantou-se ao saber que os ganhadores eram ativistas contra a violência sexual. O Prêmio Nobel deu a chance para que Nadia Murad desse seu grito bem alto e ecoasse. Infelizmente as nossas sociedades “modernas” moldadas com a visão machista tratarão de abafar o grito. Ele não passará de um sussurro.
Nadia foi usada como escrava sexual pelo Estado Islâmico. Num primeiro momento, isto parece tão distante de nós. Grande engano. Nem é preciso transportar a Nadia para o nosso país. Aqui no Brasil temos Nadias em profusão. Vistas, olhadas e apontadas como escravas e abusadas de diversas formas.
O que mais assusta do grito se transformar em sussurro, é que a maioria das mulheres se deixa modelar por essas sociedades de costumes e crenças machistas. É perfeitamente compreensível a dificuldade de se mudar algo que vem de berço. Incompreensíveis são as poucas tentativas de mudanças.
Uma das formas modernas de abuso são os vídeos. Quando visitamos qualquer site pornô há milhares de vídeos postados por ex-maridos, ex-namorados... Sim, já estou ouvindo gritos ecoando perguntando: Por que se deixou filmar? Se as sociedades deitassem num divã de psicanalista teriam de responder uma outra pergunta: Por que os ex-maridos e ex-namorados postam os vídeos lá depois do fim da relação?
Um dos negócios do crime organizado atualmente é o tráfico de mulheres. Ninguém saberia afirmar o número de mulheres nesta condição, porque no fim da ponta a maioria delas simplesmente desaparece sem deixar rastros. O Brasil está inserido neste contexto onde impera a lei do silêncio.
A violência contra as mulheres também esteve presente nas eleições disfarçada muitas vezes de “fake news”. Algumas também verdadeiras aberrações. Estarrecedor é a naturalidade com que encarramos essa violência. Quase como se as mulheres merecessem. Aberração maior ainda é inserir a ideologia no abuso.
Para que as mulheres não se calem e aceitem sua condição de escrava, é preciso que as sociedades mudem radicalmente. Estamos no século 21, e ainda olhamos para as mulheres como se estivéssemos na Idade das Trevas. O Iluminismo está tardando muito a chegar.
Nadia está gritando. Malala já gritou. Nem é o caso de as sociedades sofrerem de surdez crônica. O machismo continua um excelente tapa ouvidos.