O que passa por mim?
Não sei exatamente. Exceto pelo tempo e o vento levando os anos e as folhas secas... Mas eu sei que, de fato, tudo passa, embora eu pense, irracionalmente, que talvez existam as coisas perenes.
Partiram as águas. Em março... Ficaram os seixos de agosto e o paradoxo da erva-cidreira nas rachaduras da velha rocha... Ah! E o lodo esverdeado pelos limbos de uma pequena lagoa. Resquícios das águas que partiram.
Junto ao barranco um filete de água corre timidamente e tão silencioso lutando contra a aridez do tempo. Foi o que restou depois de março. Mas ele sabe sofrer em silêncio as duras perdas e tem esperança que suas águas voltem e cubram os bancos de areia e certamente até essa rocha, de onde agora olho um paraíso perdido pelas margens do velho rio: as raízes descobertas; os troncos desnudos; a terra esbranquiçada dos barrancos ruindo; as pedras cinza, os gravetos ressequidos...
Há em tudo uma melancólica paz. Mas gosto dessa melancolia porque é ela que me faz pensar que a vida das coisas vão e vem, embora não sejam as mesmas. E não desespero. Eu mesma vou e venho sempre...
Desta vez eu vim e visitei, além da rocha que resiste às águas e ao tempo, o velho pé de jacarandá. Admirei-me de vê-lo em ruínas naquela vasta planície ocre e cheia de sol. Metade dos galhos secos ainda resistindo... A outra metade caída em meio ao capinzal seco de agosto. Vítima de raios. Não sei... Fui na esperança de ver as belas flores lilases cobrindo os galhos desnudos. As belas flores que um dia fotografei e transformei em versos.
No entanto, o que vi? Galhos secos caídos, de um branco sem vida, quase cinza. Toquei sua palidez quase sem acreditar. Minha alma partiu feito aqueles mesmos galhos ali espalhados pelo capinzal. A dor... Eu sei o que é a dor da perda. Por isso chorei. Mais uma vez tive a certeza de que tudo passa. Só não passa a lembrança, a saudade...
Restou-me senão partir também. O tempo e o vento agitando meus cabelos naquela tarde quando sua sombra já teimava em cobrir a larga planície por onde com passos pesados eu segui... O últimos raios do sol secando as lágrimas vadias... A única certeza era de que aqueles galhos secos se transformariam em versos em algum momento.
IMAGENS: clicadas por mim em 12 de agosto de 2018. O personagem das fotos é nosso cão Valente que me acompanhou nessa visita à ilha do velho rio Paranaíba na fazenda de meu pai. Uma tarde especial de lembranças, saudades e cliks. Quanto ao poema ao jacarandá em ruínas , logo o escreverei. Me aguardem...