A fé e a doação.
Acabei de deixar a minha mulher no ponto de ônibus da Av. Francisco Morato, mesmo com esse tempinho meio úmido e garoando. Ela é Testemunha de Jeová há mais de 35 anos, e muito dedicada à sua religião. Hoje , me pediu que a deixasse nesse ponto, onde outros irmãos de fé já estariam lá com um carrinho de revistas, para os transeuntes interessados , e atender aos que precisam de uma palavra.
A fiquei olhando , atravessar a faixa de pedestres em direção aos seus conhecidos de obra, e estava feliz , como sempre fica quando faz o que gosta.
Me lembrei o quanto foi difícil essa aceitação no início, as tantas vezes que discutimos feio , e confesso que cheguei a pensar em separação, éramos muito jovens e tínhamos dificuldades em aceitar essas coisas. Ela, também queria que eu fosse da sua congregação, estudasse a palavra e me tornasse irmão de fé, além de marido, então interferia na minha rotina, sem sucesso, só me irritava ainda mais.
Certa manhã de domingo, apareceram dois engravatados em casa , ela os havia chamado na intenção de me converter, e aguentei firme apesar da ira que senti, e só pedi que se retirassem imediatamente , e quando foram embora, brigamos feio, me senti invadido de alguma forma, era um direito que ela não tinha.
Pouco a pouco o tempo foi clareando as coisas, passei a aceitar a palavra mesmo não me tornando Testemunha, fiz amizades entre eles, fui algumas vezes a celebrações, sem me envolver, e por outro lado ela me aceitou assim, do jeito que sempre fui.
Evoluí espiritualmente, hoje reconheço a entrega e a dedicação sincera que ela tem com a obra, mas nasci com espírito livre demais para seguir qualquer tipo de religião, absorvo ensinamentos sobre Deus , e também quero ser um homem melhor e em estado de evolução, e tenho certeza que quando oro com o coração e humildade, sou ouvido da mesma forma.