Mêdo, estava feliz mas assustada. Listei alguns itens negativos:não viajava sozinha há mais de quinze anos, só me lembro de ter dividido um quarto e banheiro quando era adolescente, - não vou revelar a data-, tenho limitações quanto ao tempo de caminhada, atividades físicas, permanecer sentada e por aí vai.
Positivos:adoro alimentação natural, me jogo de cabeça nas experiências, vivo cada oportunidade com coragem ou teimosia.  
Peguei o último vôo, despachei a mala com rodinhas e fui com as mãos livres.Pernoitei em um hotel próximo ao aeroporto, limpo e confortável; no dia seguinte me juntei ao grupo e seguimos para o interior de Porto Alegre.
Vale ressaltar que o retiro era de formação de professores de Mindfulness e Compaixão, da Breathwork. Neste ponto estava muito tranquila, a grande questão era se eu iria aguentar o dia a dia com aulas, práticas e atividades. Tenho insônia há anos, durmo muito mal e faço uns sons constrangedores por conta da apnéia, e precisava dividir a cabana com outras três pessoas.

Na primeira noite fui deitar às vinte e duas horas e dormi imediatamente, para ser sincera dormi tão bem que no dia seguinte levantei às seis com a corda toda. Não falei nada,  podia ser cansaço ou talvez a mudança de ares. Sabe quando a gente recebe algo muito bom e tem receio de comentar e acabar? Pois é, eu fiquei assim os três primeiros dias, meio sem acreditar no que estava acontecendo com meu corpo.
Além do sono ter voltado ao normal, meu apetite também aumentou; me alimentava basicamente de frutas, legumes, chás e  verduras. Nada industrializado, química zero e frutas colhidas do pé. Continuei tomando os medicamentos, fazendo as refeições e nada de enjôos ou mal estar. Todos os dias quando o sino tocava às seis da manhã, eu já estava caminhando para fazer exercícios de Chi kung, a maioria das vezes sentada em uma cadeira.  Haviam vários intervalos durante a programação, e nesse tempo eu descansava. Confortável, tranquila, respeitando meu tempo, meu corpo e limites.



Aproveitei cada instante mas queria compreender a razão de tantas mudanças,  o que estava acontecendo para a dor responder tão bem aos medicamentos? A resposta à dor havia mudado, meu organismo também reagia melhor e eu estava me sentindo muito mais disposta. Durante todo o período do retiro, não entrei em crise nenhuma vez, e isso foi algo inédito em anos e anos com  dor crônica. A ciência explica muito bem tudo que ocorreu, não há mistério nem sobrenatural, o cérebro é surpreendente e o corpo capaz de grandes transformações. Durante todo o período em que estava em retiro, me recolhi em meditação e acolhimento. Sem contato com o mundo exterior, longe de qualquer situação estressante, fazendo silêncio por vários períodos, acalmando o corpo e a mente. Relaxando, soltando a musculatura, interagindo e aprendendo, trocando e alcançando a paz e tranquilidade. A doença e a dor não se modificaram, mas todos os outros aspectos que intensificam o sofrimento diminuíram ou cessaram.

Quando voltei  para a cidade, surgiu a  grande questão: o que fazer para prorrogar os benefícios que obtive?
Para começar, recomecei a dieta anti-inflamatória, agora com seriedade e compromisso. A dieta é muito simples; natural e sem químicas, chás, fitoterápicos e um retorno aos bons tempos da culinária com sabor da roça. Continuar as práticas, meditações e colocar em prática tudo que vivi. Experimentar, testar e tentar.
Esse retiro foi uma experiência importante, agora é seguir em frente com o coração mais leve e a esperança renovada. Compaixão. Muita compaixão com os altos e baixos da dor e da doença, que não é nada fácil mas pode ser controlada.


AR*= artrite reumatóide, doença inflamatória crônica, autoimune que atinge 1% da população. Atinge crianças e idosos. 
Giselle Sato
Enviado por Giselle Sato em 03/10/2018
Reeditado em 04/10/2018
Código do texto: T6466882
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