Relato De Um Amor Eterno


Foram apenas cinco meses de um relacionamento intenso, cheio de altos e baixos, um tanto quanto tumultuado.
Ele era mais velho, porém muito bonito, um porte imponente, chamava a atenção por onde passava, grande e forte.
Eu me achava um pouco pequena demais para ele, mas o amei com todas as fibras do meu ser desde o momento em que o vi, apesar que, desde o início, senti-me receosa em me aproximar, porém, tinha necessidade de tê-lo, ele era tudo o que eu precisava e queria, nele eu me sentia aconchegada.
Vivemos descomedidamente esse amor cheio de aventuras, algumas agruras, desentendimentos e, como não poderia deixar de haver, loucuras, muitas loucuras.
Eu era jovem, inexperiente, medrosa e ele me oferecia segurança.Com ele cometi algumas burrices das quais hoje me perdoo, apesar de tudo, por compreender que naqueles momentos não poderia ter agido de outra forma.
Andamos juntos por estradas, caminhos, pontes, ruelas e becos. Enfrentamos ventania, chuva forte, sol inclemente e a noite escura.
Vezes sem conta senti meu coração acelerar como se fosse sair pela boca, mãos suadas e, às vezes, geladas, arrepios intensos subindo pela coluna, todas as emoções ao mesmo tempo.Com ele eu ia ás alturas e depois voltava suavemente.  E era tudo tão impetuoso que, muitas vezes, tive vontade de largá-lo e sair correndo, dar-lhe as costas e nunca mais voltar a encará-lo.
Quando o perdi achei que não iria sobreviver, conquanto sempre soube, desde o início, que não seria duradouro. Chorei, esperneei, ameacei me jogar da ponte com o mequetrefe Voyage branco que nós tínhamos.
Foi duro, muito duro e o arrependimento me acompanhou por muito tempo. Eu não queria outro, achava que jamais poderia me acostumar com outro, contudo, relacionamentos complicados novamente estavam fora de cogitação.
Senti pânico, insegurança, amaldiçoei meu destino cruel que levava embora o grande amor da minha vida. Um amor conturbado e problemático.
Seu nome era Anaxágoras, um nome diferente, ostentoso e nobre como ele.
Eu o chamava carinhosamente de Xaxá. O meu Xaxá, que metia inveja na mulherada e eu adorava exibi-lo.
Depois que abri mão do nosso amor, convencida que era para meu próprio bem, nunca mais soube nada dele. Do mesmo jeito que entrou na minha vida assim também sumiu para sempre.
Hoje, trinta anos após o rompimento, restabelecida e completamente recuperada daquela perda terrível, recordo com carinho e saudade do curto tempo em que fomos felizes juntos, a despeito dos percalços que acompanharam nossa trajetória.
Vou lhes confessar que depois dele tive outros, muitos outros. Tornei-me uma perdulária de primeira grandeza, volúvel, insensível, fazendo questão de não me apegar a mais nenhum.
Neste rol Xaxá figura em primeiro lugar no topo da lista que é tão grande que não conseguiria enumerar a todos. A memória descarta os que não se tornaram importantes.
Meio que plagiando Martinho da Vila eu diria que tive amores de todas as cores, de todas as idades e de todos os dissabores. Alguns eu realmente amei, outros apenas aceitei por falta de opção ou por falta de condições melhores.
E até aquela decepção se tornar apenas uma aceitável lembrança boa, coloquei a culpa na pessoa mais próxima a mim, aquele com o qual eu convivia no dia a dia: meu marido.
Sim, não se espantem. Eu era casada, ou melhor, ainda sou. Foi meu marido quem me deu e foi ele quem me tirou Anaxágoras, um Opala Comodoro, 1984, de cor verde escura,  seis cilindros, bancos de couro e hidramático, como se dizia à época, parecia uma limosine, com o qual eu perdi o medo de dirigir.




 
Roseli Schutel
Enviado por Roseli Schutel em 02/10/2018
Reeditado em 29/05/2020
Código do texto: T6465275
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