Cotidiano
Lá estão os meninos brincando de esconde-esconde.
- Rá! te peguei! sua vez!
- Não valeu! você roubou!!!
E as adolescentes preparam-se para irem as compras...
- Onde você pensa que vai?
Pergunta a mãe com autoridade, ao mesmo tempo iludida de que adolescente primeiro pensa antes de agir.
- Vou comprar as coisas com a Eduarda, ora!
Responde a menina afoita já fora da casa rumo a ladeira...
- QUE COISAS?
Grita a mãe (persistente) de dentro da janela.
- As do cachorro-quente, mãe! Eu avisei que íamos fazer...
Saem as amigas de braços dados, sorridentes e ansiosas para a farra que as aguarda à noitinha.
Passa o vendedor de mangas e limões com seu carrinho de mão. Mais parece estar brincando - tal qual os meninos -, pois faz desvios engraçados dos rastros de dejetos que os burrinhos deixaram mais cedo por ali.
- Vai querer levar algumas, dona?
- Não, se fossem das outras eu até queria, só gosto das de fiapos.
- Tá bom. E um limãozinho?
- Também não, lá em casa ainda tem.
O sol está se pondo à minha direita, por detrás das casas e montanhas. Lá ao fundo dá para ver a torre da Igreja. Alguns pássaros revoam...
Do outro lado, a lua ainda fosca aguarda o sol ir-se de vez para poder sozinha brilhar.
Observo a tudo de minha varanda enquanto espero meu amigo (aquele que conheci em uma dessas tardes) aparecer...
Ah, e tem a Dona M. que resolveu, esses dias, colorir sua casa toda de verde. Na calçada, senta em sua cadeira de balanço que, pra mim, agora mais parece repousar sob a copa de uma árvore.
A singela poesia do cotidiano. Tire um tempo para observar...