PININHA,A FEIA!

Bom dia, Pina! Atrasadinha, hein!

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Pina, Bom dia!

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Ih! Que bicho mordeu? Está sem voz?

Faz de conta que sim....

Vixê, menina! O que houve?

To arretada!

Choveu e alagou de novo na sua rua?.

Também.

Levantou tarde? Já sei. Faltou luz de madrugada e o despertador atrasou...

Só um pouquinho e antes fosse.

Desembucha, menina!

Dona Gertrudes, a senhora vai descontar meu atraso? Se for descontar, eu nem me troco e vou embora.

Depende da desculpa. Foi o ônibus?

Quem contou? Quase fui presa.

Presa? Pina, inventa uma desculpa mais caprichada.

Não é desculpa. É verdade.

Ai! Pina! Para de mistério e conta.

Dei uma guarda-chuvada no motorista.

Ai... Ai... Ai... Ai... Ai... Pina, por que?

Ele me ofendeu.

Xingou você?

Quase.

Pina, para de enrolar.

Eu sou muito feia?

Não, Pina!

Não, quanto?

Ai, Pina! Você não é feia. Não dá pra ser modelo de revista, mas não assusta criancinha.

Ah! Sou assim tipo a Bruxa do Halloween?

Vamos ao que interessa. Por que você atacou o motorista? Coitado do homem.

Coitado, nada... Era o Zé Menguinho. Arranjou emprego de motorista.

Zé Menguinho?

É. Ele é namorado da Zizi, cunhada do Zequinha que mora com a Cidoca.

Não precisa tanto detalhe. Eu não conheço nenhuma dessas pessoas.

Não tá perdendo nada.

Ai! Pina, seu humor hoje está horrível.

Tenho meus motivos.

Calma! Toma um chazinho de hortelã e me conta. Primeiro por que Zé Menguinho? Ele torce pro Flamengo?

Ai! Depois é a Pina que não entende as coisas. Claro, né Gegê!

Ai... Ai... Ai... Ai... Ai... Mereci essa. Conta logo, por que a guarda-chuvada?

Sai um pouco atrasada e o ônibus já estava saindo do ponto. Eu corri, dei sinal e ele não me esperou.

Isso é motivo para uma guarda-chuvada? Está estranho. Se ele não parou, como você conseguiu alcançá-lo?

Ora, Gegê... Corri atrás do ônibus, passei na frente e subi no ponto seguinte.

Você correu mais que o ônibus?

Ai! Gegê, já contei que lá na Vila as ruas são estreitas e os carros andam devagar.

E a guarda-chuvada?

Eu subi e reclamei com ele. Ele falou que não me viu...

E você não acreditou?

Fingi que acreditei e fiquei quietinha, dependurada no ônibus.

E a guarda-chuvada?

Peraí! Que pressa! Eu explico. Um minuto depois, ele parou fora do ponto pra Mirinha Coxinha subir.

Nem vou perguntar quem é a Mirinha.

A Mirinha é a filha do Vavá que vende cachorro-quente na frente do mercadinho do Loló.

Por isso a guarda-chuvada? Só porque ele foi gentil com a moça.

Gentil? A Mirinha é sem vergonha. Anda com tudo que é homem no bairro. Usa umas roupinhas curtinhas assim, barriga de fora.

Pina! Que drama.

Eu não aguentei. Falei alto: “A Mirinha você viu e parou fora do ponto. É o comprimento da saia?”

AI, Pina! Que agressividade.

Ele respondeu que pra moça bonita ele parava.

Puxa, Pina! Que mal-educado! Mas, precisava dar uma guarda-chuvada nele?

A senhora tem razão, mas eu fervi de raiva e não resisti. Entortei o guarda-chuvas na cabeça dele.

Ai... Ai... Ai... Ai... Ai...

Pra piorar, estava no ônibus o Neco, irmão do Lalau, filho da Lelé Manicure e falou alto: “A feinha aí está arrumando confusão e atrasando a gente”.

Queriam chamar a Polícia, mas o Mané, cunhado da Doquinha estava no ônibus e acalmou a situação. Mas que fez um galo na cabeça do Menguinho, isso fez.

Pina!. Não precisava isso. Você é uma pessoa educada. Que perda de tempo.

Gegê, fala a verdade: Eu sou feia, não sou?

Não chore, Pina! Senta no sofá, que eu vou fazer mais chá para você se acalmar.

Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 01/10/2018
Reeditado em 01/10/2018
Código do texto: T6465020
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