Pouca benfazeja
Pouca Benfazeja
Não eram nem quatro horas da tarde quando a chuva desabou sobre a cidadezinha. As donas de casa saiam feito loucas para fechar as janelas e evitar uma enchente dentro de suas casas pois chovia torrencialmente. Em uma casa, particularmente toda já fechada, nada de alvoroços. Era a casa de Laura Lindaura, uma moça solteirona, conhecida de todos e de certo renome pouco benfazejo.
Todos notavam na cidade que a casa estava com as janelas somente nos vidros, e notavam tamanho marasmo. A chuva desabava e as esquinas enchiam para observar as críticas dos cidadãos à Laura Lindaura. As senhoras olhavam com desprezo, por enxergarem naquela casa uma certa materialização do pecado, substancialmente associavam a pouca benfazeja moça.
- deve estar com algum macho! - exclamava uma senhora.
- e não é de agora que ela esta lá. - completava um rapaz, de certo, já de olho faz tempo na moça.
Passou a chuva, continuaram os mexericos na esquina. A casa continuava com um ar de desalento, nada de movimentos e nenhum barulho que seja de amor vindo de lá. Silêncio, absoluto silêncio.
- deve ter desmaiado de tanto cometer sacrilégios nessa tarde! - voltava a palpitar a senhora.
- estranho, muito estranho tudo isso. - dizia novamente o rapaz.
Tomaram frente e avançaram rumo a casa dela, com curiosidade e vontade de encontrar um novo bafão. Ao penetrarem na casa, a porta da entrada encostada sem ser trancada, ouviam um baixo choro resignado e uma leve oração interrompida vagarosamente pelo baixo soluço do choro de uma mulher. Foram avançando até chegarem a senhora e o rapaz no quarto onde viam Laura Lindaura passar a mão nos olhos da sua mãe, estendida na cama, que acabara de morrer.
Mateus Almeida Santos. 30/09/2018