NAVEGAR É PRECISO
Quando se inicia qualquer atividade, a prudência manda não pensar nas dificuldades que advirão. Içar as velas e tocar para frente. Assim foi ao me formar em Contabilidade. Registrei-me no Conselho competente e passei a fazer as escritas das pequenas empresas e assinar o balanço. Ao mesmo tempo, habilitei-me como Despachante e efetuava serviços ligados ao trânsito, cartas de motorista, licenciamentos e até naturalização de estrangeiros. Ao graduar-me em Direito, deixei essas funções por incompatibilidade.
Como advogado dativo, atuei em diversos processos. Não auferia nenhum rendimento, mas adquiria experiência e muitas vezes ganhava leitoas, frangos e uísque dos clientes que atendia.
Relato o processo que marcou bem o início da minha carreira. Foi até um tanto cômico, olhando a distância.
Uma senhora foi intimada a comparecer à Delegacia, acusada de dirigir sem habilitação e causado ferimento a outra em acidente de trânsito. Ela ficou tão traumatizada que me procurou e pediu-me para ir à delegacia e gastasse o que precisasse, para livrá-la daquele pesadelo.
Pedi para falar com o delegado.
Ao adentrar à sala, levei um susto. Era um patrício, nissei. Corpulento, grandalhão, um dois metros de altura. Sério. Pensei: é hoje que vou sair daqui preso...Comecei a explicar o motivo da visita. Estava disposto a gastar o que for necessário para amenizar a situação da minha cliente, já bastante abalada psicologicamente.
Ele pegou o processo e estendeu-me: faça um cheque de....assim na bucha. Peguei o talão, preenchi e entreguei-o. Nem cheguei a agradecer. Saí rápido...