Papai, me desenha!
O pai era artista, o filho adorava fazer “artes”.
Acostumado a retratar a sociedade nos mais variados momentos, o pintor de telas resolveu, naquela ocasião, registrar a própria família. Afinal, era o final de ano muito especial. Seu filho mais velho se formava no ensino médio, sua filha estava terminando o ensino fundamental e até sua esposa, que resolvera, já um pouco tardiamente, cursar Gastronomia, também iria pegar o diploma. Ah, e tinha o mais novo, muito peralta, mas também muito inteligente, que estava no primeiro ano do ensino fundamental.
Como havia determinado em sua mente, o artista faria um trabalho inverso do que costumeiramente os artistas fazem. Ao invés de ter alguém parado para ele olhar e copiar, imaginou cada um dos membros de sua família com suas respectivas becas, capelos e canudos, como se estivessem em plena comemoração e os desenhou.
O plano era o seguinte: daria uma festa familiar e no momento crucial do evento descobriria a sua obra de arte, a tela que pintara e pediria para os formandos ficarem parados ao lado, procurando cada um se posicionar exatamente da forma em que se encontravam pintados. Enquanto isso, os convidados se encarregariam de registrá-los com fotos.
Acontece que não conseguiu imaginar parado, o seu mais novo que de fato não costumava ficar parado um segundo sequer. Além disso, também deduziu que ele não ficaria mesmo parado na posição para os convidados fotografá-lo.
Quando chegou, enfim, o momento clímax da realização e apresentação do trabalho do orgulhoso artista, todos os formandos adoraram a homenagem e os convidados se deslumbravam, mas quem não estava completamente feliz era o pequeno que não havia sido pintado.
Começou a aproveitar que os demais estavam em “posição de estátuas” e se pôs a correr entre eles, pegando seus canudos, capelos e levantando suas becas. Resultado. Ou permaneceriam em suas posições, conforme o combinado, para serem fotografados, porém, sem os seus pertences relativos às respectivas formaturas, ou esqueciam tudo para tentarem se proteger do pequeno peralta.
O pai, decepcionado com a atitude do pequeno, desculpou-se perante seus convidados e chamou o caçula para um lugar reservado a fim de ter uma séria conversa.
---Filho, por que você não fica quieto pelo menos enquanto as pessoas tiram as fotos?
---Papai, é porque o Senhor não me desenhou, eles estão quietos porque o Senhor os pintou assim.