TEMPOS ESQUISITOS
Hoje eu dizia a uma amiga que as freiras não me aguentaram quando eu era bem pequena, em Jardim da Infância. Coisas esquisitas aconteciam lá. O burburinho de muitas crianças juntas já me assustou logo no primeiro momento. Chorei com todas as forças de meus pulmões. Lembro-me perfeitamente o que pensava enquanto chorava. Apenas não queria estar lá. É tão simples.
Meus problemas eram resolvidos quando as freiras chamavam minha irmã mais velha (e única) da sala mais adiantada para me fazer companhia alguns minutinhos. Com o passar dos dias cansei de chorar e fiz amizades e falava, falava...... Não era para falar, não sei por que se tinham tantas amiguinhas ali. Continuei falando e me castigavam fazendo-me sentar no meio das mesas dos meninos. Castigo esquisito! Eu tinha irmão mais novo e estava acostumada com meninos. Percebi que era para não gostar de estar lá, então debruçava na mesa fingindo mágoa, mais para me livrar dos olhares e risinhos.
Um dia deram um pano pequeno com risco de uma margarida, uma agulha e linha para bordar. Acho que eu estava conversando porque levei sem saber o que era para fazer. Minha avó viu pano e bordou em um piscar de olhos. Nem precisou me explicar muito, de tão fácil que era. Levei de volta e a freira fez uma festa porque o meu paninho estava bem bordado. – “Você que fez?” -“Não”. Lá veio novo castigo. Fui castigada porque não menti. Nem ligava mais de ficar no meio dos meninos. Que chatice!
É, era bem esquisito lá, mas acho que o que causou a minha retirada da escola das freiras foi o dia que eu “fugi”, ou não esperei minha irmã sair para ir para casa. Este dia foi infernal. Era minha irmã gritando em casa, pelo medo que passou, minha mãe preocupada com as ruas (duas) que atravessei sozinha. Pela minha ousadia e desobediência. Que criança malvada eu era!
(Republicação de julho de 2010)