RUAS AONDE ELE (M. ASSIS) DEVE TER ANDADO... - PARTE II



MACHADO DE ASSIS, Patrimônio Cultural Carioca.

1-Grande ESCRITOR! Até 2008, livros traduzidos para 25 idiomas e publicados em 30 países. Foi jornalista, poeta, teatrólogo, contista, cronista, romancista... ah, e funcionário público! Literatura estética (estilo da escrita) + sócio-historicidade de representação da nacionalidade brasileira. Primeiro texto aos 15 anos na revista Marmota Fluminense. Entre as décadas de 1870 e 1880, os contos da chamada "fase de compromisso ou convencional" e romances ditos 'mais leves'... Um ano depois, o divisor de águas "...Brás Cubas", voz da camada social mais alta, e a partir desta publicação, ênfase nas crônicas, a maturidade do seu realismo de sondagem moral, contradições da sociedade que não quer baixar de classe. Autor escarnecia de todos e de tudo. // 2-Há CIDADES que se eternizam através da literatura e o "dono" do Rio de Janeiro foi o nascido carioca MACHADO DE ASSIS - sob as lentes do futuro Bruxo do Cosme Velho nada escapava... Costumes, moral ou falta de moral, elite X ralé, mediocridade, grandes sonhos x pequenos pecados, palácios X modestas construções. Imensa importância de MACHADO para a construção de uma memória carioca, O 'menino do Livramento" - zona portuária da antiga capital federal - circulou, nas proximidades com o centrão da cidade, entre Gamboa, Saúde, Praia Formosa e depois num bairro mais distante, São Cristóvão. Filho de casal pobre, amparado pela madrinha abastada e proprietária da chácara onde viveu até os 15 anos. Garato, residiu com a madrasta em São Cristóvão; adolescente, trabalhou muito cedo para ajudar as magras finanças de casa, próximo ao Cais Pharoux; adulto, morou na rua Matacavalos (solteiro, num sobrado, 1860 - em 1864, curta viagem de trem até Barra do Piraí), na rua dos Andradas (casado, outro sobrado, 1869), depois rua Santa Luzia (num segundo andar, 1873), na Lapa (1874), em Laranjeiras (largo do Machado, 1877 - em Friburgo por três meses em tratamento de saúde), na rua do Catete (1878, e outra viagem a Friburgo em 1880, licença médica, séria doença nos olhos, infecção intestinal e aumento das crises epiléticas por agudo estresse, primeiras férias de sua vida) e finalmente no Cosme Velho (sobrado pertencente à mulher de um irmão de Carolina, 1883). ----- 3-Com o PRESTÍGIO conquistado de escritor famoso, origem proletária sumiu, ele embranqueceu e foi aceito como ícone literário na sociedade ainda escravocrata. A partir de 1880, diversos cargos públicos importantes, porém não se deixou intimidar e controlar, e manteve seus textos corrosivos, classes dominantes cedendo espaço para os conflitos de classe. Em 1904, Friburgo na tentativa de recuperar a saúde cada vez mais frágil da esposa Carolina que falece neste mesmo ano, após 35 anos de casados. Quatro anos de solidão e depressão. Nova licença médica. No leito de morte de MACHADO, em setembro de 1908, moribundo, um estudante desconhecido entrou na casa e, calado, ajoelhou-se e beijou a mão do Mestre, colocou-a junto ao peito... e saiu, coração batendo sozinho pela alma de todo o país. Enterro tão modesto quanto o falecimento, cortejo com cerca de 70 pessoas, jazigo junto à sepultura de Carolina, cemitério em Botafogo. ----- 4-Muitas TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS desde a chegada da Família Real Portuguesa em 1808! O escritor viveu e participou do 'drama' da formação da nacionalidade, como escritor e porque nasceu 'povão', observador de um país frágil por suas contradições (até hoje!!!). Abdicando do Romantismo a partir de "Brás", destruído o mito do narrador onisciente e emergiu a consciência nua do indivídui, fraco e incoerente - não mais herói em grandes missões. Agora destinos comuns sem qualquer grandeza. Fora da ficção, também a batalha pelo estabelecimento da nossa cultura na crõnica "Instinto de nacionalidade", publicada em "O muro", março de 1873 - nega as práticas românticas de reconhecer o país na figura exclusiva do índio, nosso cavaleiro do "medievo", retorno à mãe-natureza e ao "mito do bom selvagem", do filósofo francês JEAN JACQUES ROUSSEAU (por não possuirmos um verdadeiro passado medieval): cultura e assunto local, sim, mas não eixo centralizador da cultura nacional. No nacional literário, o escrever de maneira brasileira e não exaltar a paisagem nacional. ----- 5-URBANIDADE NA OBRA DE MACHADO - Seguiu em seus textos o ritmo da vida política e social das classes, registrando personagens no cotidiano das cidades à época de PEDRO II, acontecimentos de relevância política comentados nos enredos como fatos corriqueiros, por exemplo, em "Memorial de Aires", o tom quase anedótico sobre o confisco de terras da propriedade privada e o abolicionismo, ou seja, a libertação dos escravos; e na noite das luminárias de declaração da independência, um amanhecer de alma pública, muito mais importante foi Brás ver Marcela pela primeira vez no Rossio Grande. A cidade do Rio de Janeiro sempre como pano de fundo ou cenário, porém personagem, realidade humana, visão nem sentimental nem pitoresca. Em homenagem à rua do ouvidor, define a verdadeira artéria da cidade que resume o Rio que a fúria celeste poderia destruir, conservando-a - "Tempos de crise", em Contos avulsos, 1873. Rubião passeia pela Saúde e pela Gamboa. Em "Dom Casmurro", a temporalidade da narrativa se estica além do passado feliz na Lapa - ah, o mar! - Capitu com "olhos de ressaca" e o afogamento de Escobar, um dos capítulos nomeado deste comflito, Ciúmes do mar. Se morresse Bentinho não lamenta saudades das pessoas e sim da cidade. ----- 6-MACHADO e a memória - Literatura passando a documento histórico, psicológico e anedótico - memória do século: vida íntima do tempo, maneira de amar, eleições, compor e deitar os ministérios (impeachment?), galanteios, mulheres animosas ou dissimuladas, xales ou capas, veículos, relógios à direita ou à esquerda........ -----7-RESIDÊNCIAS - Muitas tentativas, a maioria inuteis, do processo de identificação exata dos endereços residenciais devido a constantes mudanças na numeração das casas. Em todo caso, decreto resolveu tombar provisoriamente as fachadas de imóveis onde ele viveu, na rua dos Andradas (de 1869 a 1871 ou 1873) e na rua da Lapa (entre 1874 e 1875 ou 1877). ----- 8-LUGARES do Rio /alguns/ mais frequentemente citados na obra de MACHADO - Avenida Central (hoje Rio Branco) - Igreja de São Domingos (ficava no largo do Rocio, demolida em 1942) - Largo do Paço (atual praça XV de Novembro) - Largo do Rocio (atual Praça Tiradentes) - Morro do Livramento (derrubado e no local aberta a avenida Central) - Rua da Direita (atual Primeiro de Março) - Rua dos Latoeiros (atual Gonça,ves Dias) - Rua Maacavalos (atual rua do Riachuelo) - Rua do Piolho (atual rua da Carioca) - Rua do Sacramento (atual avenida Passos) - Teatro São Pedro de Alcântara (destruído pelo fogo, hoje novo prédio em estilo art-déco).

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LEIAM meus trabalhos CONTOS MACHADIANOS e RUA "DE" CAPITU.

FONTES:

Recortes diversos de várias publicações // "Machado e a cidade" - Rio, jorna, Rio Estudos, PMRJ - Comunicação social, n.291, 20/9/08.

F I M




 
Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 29/09/2018
Código do texto: T6463003
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