Quem sou eu?
 
“Quem é você?
- Eu já não sei, senhor.  Mudei tantas vezes desde hoje de manhã”. Alice no País das Maravilhas.



 
Admiro quem consegue se definir como tal ou qual característica. A única certeza que tenho é que sou ambivalente - carrego sentimentos contraditórios entre si. E,  sempre que posso, cometo os mesmos erros de antigamente. Às vezes, tento e não consigo dialogar com a adolescente radical que já existiu em mim, se ela ainda está aqui, não a  vejo mais. 


Essa  projeção do mundo como binário é que nos faz querer se enquadrar nessa ou naquela categoria de pessoas, cingindo-se na separação entre bons e maus, certo ou errado, esquerda ou direita. Será mesmo que tudo tem que ser assim? Um mundo dividido entre mocinhos e bandidos, santos e pecadores? Por que não se aceita que existem os meios termos, que ninguém é só o "bem" nem  só o "mal"? Todos possuem potencial para qualquer dos lados, pois são muitos os sentimentos que se agregam ao ser humano como ambiguidade, contradição, egoísmo e altruísmo – Ambivalência é  o que faz do ser humano, humano!
 

O traço distintivo, da humanidade que sobreviveu ao processo evolutivo, é a capacidade de adaptação. Diria que temos forma plástica e a vida vai moldando conforme a situação, não de maneira predeterminada, pois há um limite para cada um, assim, mesmo em condições iguais, ainda seremos diferentes. Quem nunca presenciou certas atitudes de pessoas amadas a ponto de desconhecê-las? Quem nunca fez coisas que acreditava nunca fazê-las, desconhecendo a si mesmo?



A moldura de cada pessoa pode ser comparada ao barro ou ao aço. A escultura feita de barro se quebra facilmente, já quando feita em aço forjado pelo fogo, tem alto poder de resistência, suportando as intempéries da vida e sob pressão  se transforma em algo  ainda mais resistente, sem perder a essência.


Se somos adaptáveis, basta cada um escolher qual a sua moldura e sobreviver as suas próprias contradições. Não somos planos – a linha reta é a da morte, por isso mudamos o tempo todo.  Então, quem sou eu? Não sei. Serei muitas ao longo do dia, às vezes doce, outras fel, mas hoje, eu apenas sou! amanhã serei!