Assim ou ... nem tanto.154
A esperança.
Era um muro branco de pouca altura. Debruçada nele havia a planta que, intensamente florida, garrida de cores, dava os bons dias a quem passasse. Estava, única, acima do branco da cal. Quando passei gritava-se no carro e o mundo, o nosso mundo, parecia não ter conserto. Era tenso, pesado, sombrio. Depois, vi-a, à trepadeira, confiante nesse mesmo mundo que acabávamos de maldizer. Ainda gritei: olhem a esperança. E todos olharam e não viram nem a esperança, nem a confiança, nem a certeza com que, tão magnífica se afirmava a planta. E o mundo parecia ter parado. Por que gritávamos se éramos tão poucos? Por que razão ardiam palavras desencontradas onde era suposto estarem só amigos? – Que Esperança? Não vi ninguém nesta rua deserta. Os outros dois também não viram. Na verdade, sob a luz intensa daquele dia, ninguém andava naquela rua. A esperança, que para todos era uma mulher, estava impessoal e belíssima naquela planta que só eu vi, admirei, percebi. Há gente assim, que toma a nuvem por Juno, que vê onde ninguém vê, que lê onde nada está escrito. A maioria, no entanto, é mais acertada e do imponderável não sabe nada e do que implica emoção e sentimento também desconhece. Bem vê, dizem-me, chego a casa morto de cansaço engulo o jantar com pressa, amo como se não amasse e corro para o sono que me reequilibra. Amanhã não é feriado e tenho, como Sísifo, de levar outra vez a pedra para o alto da montanha.