Essa mulher dava gosto de ver
Cabelos longos, levemente desalinhados, que corriam para onde o vento os mandasse. Pele doce e macia, florida, como poucas. Estava chegando aos cinquenta, mas dava para jurar que mal saíra dos trinta. Os seios, pouco untados até então, reinavam com supremacia absoluta. Coxas construídas por escultor habilidoso, que dedicou a cada detalhe uma atenção mais que especial. A bunda era espetáculo à parte. Mesclava uma rigidez de atleta com curvas que tonteavam sem perdão. Barriga bem torneada, chamando toda hora para um novo aconchego. O pescoço era espetáculo extra. Tinha um tempero que praticamente obrigava a inundá-lo de beijos, lambidas, fungadas sem descanso. Um mulher perfeita, com quitutes em cada pedaço daquele corpo ao qual Deus dedicou bem mais tempo para fazer existir. Exemplar privilegiado da criação feminina, talvez o único entre bilhões de outros que encontramos nessa nossa Terra. A corcunda destoava um pouco daquela perfeição toda, como rebarba mal ajambrada. Mancava levemente da perna direita, imperfeição que até lhe dava até certo charme. Não sabia explicar o chorume que exalava pelos poros, que fazia perdurar uma fétida névoa a envolvendo toda. Os dentes, outrora do mais lindo marfim, agora perfaziam podres, os poucos que ainda restavam naquela boca sensual, torneada pelos lábios carnudos, num vermelho tão intenso que deixaria os demais vermelhos encabulados. A infecção de outrora que a fizera perder um olho, que pena, fez restar um buraco na órbita ocular que assustava qualquer incauto que deparasse. Mantinha as unhas sujas como forma de protesto pelas chicotadas que a vida, impassível, lhe fazia valer. Dava gosto de ver a que ponto pode chegar uma criatura humana. Dava mesmo.