A volta do Rei
Todos achavam que o Rei tinha partido de vez. Ou que estava morto. Até ele pensava um pouco assim. No passar dos anos foi deixando de exercer seu reinado como antes. Vários fatores o levaram a agir assim. Parte culpa dele, parte culpa não dele. Os súditos, sedentos por um governante que governasse de fato, não tiveram dúvidas, e nem dó. Foram pouco a pouco tirando seu manto, seu cetro, sua coroa, seu trono. Até que ele, desnudo e triste, foi recolhendo na sua sombra, encolhido, franzino, sofrido. Mas era o Rei, caramba! Tinha seus direitos, domínios, regalias. Mas Rei que não reina é jogado fora. Rei que se faz incapaz de gerir o reinado, acaba sendo resto descartável. Mas ele era o Rei, caramba! R-e-i. Merecia reverência, respeito, mas só recebia desprezo. Merecia crédito, admiração, mas só tinha cara feia. Mas quem é Rei nunca perderia sua majestade. Quem é Rei sempre terá o direito de ocupar seu canto com as benesses que o tempo lhe outorgou. E foram assim muitos tempos, tantos que perdeu a conta. Então quando só faltavam vir os urubus se esbaldarem com sua carniça, ele voltou. Sem as roupas e apetrechos reais, porque tudo isso já havia perdido. De alma e corpos nus, o Rei voltou ao castelo. Passos batendo no chão com firmeza, olhos fixos naquilo que queria, coração sincronizado com seus sonhos mais firmes.
E assim o Rei voltou para o que sempre foi seu. Reinadamente seu