Castigo Silencioso - EC !
Não era um mau rapaz, porém tinha um conceito moralmente distorcido sobre os colegas “certinhos”, não queria pertencer à turma dos babacas, preferia ser temido e conhecido. Certo dia durante aula sobre ar comprimido, gás, calor e conversando mais a respeito elaborou em casa um maçarico a partir do desodorante aerosol de seu pai. Testou no quintal de casa, e adorou a sensação de poder. No dia seguinte sacou de sua poderosa arma no intervalo de troca de professores, e como um dragão lançou chamas no fundo da sala de aula. Os amigos entre amedrontados e impressionados com a criatividade e coragem, notaram quando a professora apareceu na janela e o alertaram, quando na correria por esconder, o frasco caiu no chão atingindo a perna do colega Bruno, derretendo a calça de material sintético do uniforme, que grudava na pele do jovem que aos gritos pulava pela sala.
O amigo foi socorrido, levado ao hospital e precisou de diversas cirurgias para reparar o membro, mas devido à profundidade da queimadura ficou mancando pela vida afora, o que não o impediu de tornar-se um jovem empreendedor de muito sucesso, casou-se e teve dois filhos, tinha uma família feliz e era querido por todos no bairro.
O processo judicial movido pela família da vítima não gerou graves consequências por não ter completado os 18 anos, concluiu o segundo grau em outra escola devido à expulsão, e a vida seguiu aparentemente de forma normal. Mera aparência, pois dentro de si punia-se, cada vez que passava por Bruno manquitola pelo bairro, ou que ouvia histórias de acidentes evitáveis que imputam limitações às pessoas saudáveis.
O que é uma expulsão, um sermão ou os castigos com privações quando dentro de si a culpa e o remorso o corroíam diariamente? Tornara-se uma pessoa deprimida, solitária e infeliz. Seu crime foi pontual, sua punição: perene.
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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Crime e Castigo
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