From The Vaults*

Talvez hoje você possa abrir o baú que há tanto tempo mantém fechado a sete chaves. Ali o tempo não passa. Ali o tempo não existe – para sermos mais objetivos.

O que há por ser descoberto? Nada, a não ser o que a memória já não pode abarcar. (É que ela é uma Senhora muito ocupada, entende? Incumbe-se apenas do que é mais recente ou, sendo remoto, marcou nossa vida de alguma forma especial...) O esquecimento, tal como a ignorância, o desconhecimento de muitas coisas (dentre elas problemas dos tipos mais diversos), é uma benção.

Tenho certeza de que recordar pode ser arriscado. Pode causar re-preocupações.

Mas retomo a pergunta: o que há por ser descoberto? Um silêncio mortal, aterrador, imóvel, que encara, do fundo do baú, a quem contempla o interior do mesmo? O Silêncio Impera em Absoluto Silêncio. De modo ruidoso – antítese basilar essa. O que espera quem abre a tampa do baú? Ao encararmos o abismo, ele nos encara também. Nietzsche não poderia ser mais metafórico e direto ao mesmo tempo. O que guarda o baú? O que aguarda quem o abre?

Silêncio Absoluto. A escuridão do objeto é internadora. Abrange um mundo infinito. Abraça um universo de (im)possibilidades. (O túmulo é o baú dos mortos e sua morada eterna.)

Silêncio Total. Escuridão. O que há por ser descoberto?

NOTA

* Alguns traduzem isso como "Dos Cofres". Eu prefiro uma tradução mais específica, uma transcriação, se o termo é cabível aqui. A tradução "Das Criptas" me parece mais legal. Há, por certo, uma outra, talvez ainda melhor: "Do Fundo do Baú". Essa sim uma tradução mais adequada, a julgar pelo contexto.