Jéferson e o hambúrguer gigante
Jéferson é um mineiro boa gente, baixinho, de olhos grandes e cabelos curtos encaracolados, camiseta vermelha, bermuda e chinelo azul. Descontraído e sorridente, está sentado no chão com seu sobrinho ao lado. Ana assiste a cena e pergunta gentilmente se querem se sentar nas duas cadeiras disponíveis. A criança a vontade balança a cabeça dizendo não e ele responde que estão bem acomodados ali. Ana está lendo um livro enquanto aguarda ser chamada, ela sabe que normalmente o atendimento costuma demorar no postinho de saúde por isso mesmo levou um livro para o tempo passar mais rápido.
Jéferson interrompe a leitura de Ana, quer jogar conversa fora, é comunicativo e hiperativo, tão agitado parece que ter pulgas no chão. A criança calma se distrai no celular. “Pelo jeito nenhum dos dois está sentindo dor “ pensa Ana enquanto sente cólicas subindo. Jéferson conta que se sente feliz por estar tão bem de saúde, quanto ao sobrinho, veio apenas para vacinar.
Ana larga o livro na cadeira vazia ao lado e resolve escutar o moço tão risonho e animado. Ele conta que trabalhava num supermercado e todos os dias fazia seu lanche ali mesmo. Seu salario mal dava para pagar suas contas e despesas na pensão onde morava. Mas, aquela tarde de quinta-feira foi especial, era seu aniversario, completava 22 anos, mesmo com pouco dinheiro no bolso, decidiu que comeria na lanchonete vizinha. Deu horário de lanche e sem que reparassem dirigiu-se ao local desejado. Não convidou ninguém, precisava aproveitar aquele momento sem conversar, seria somente ele e seu presente. Viu placa de promoção e decidiu que não. Merecia o melhor sanduíche da sua vida. Pediu o maior que tinha. Ah, como estava delicioso o sanduíche com aquele hambúrguer gigante. Tomou uma garrafinha de água mineral e voltou para o trabalho realizado e satisfeito. Trabalhou mais algumas horas, pegou o ônibus e chegou à pensão. Começou a sentir-se meio estranho, algo estava errado. Tomou seu banho e vestiu pijama. Eram apenas 9 horas da noite e costumava dormir só às 11. Tomou um analgésico e foi deitar, logo iria passar imaginou. Cinco minutos na cama e levantou porque estava com muita dor na barriga e enjoo, pensou que iria apenas vomitar mais o que saiu de dentro dele foi uma bola, ele disse para Ana que foi uma bola enorme de sangue. Em seguida apagou.
Acordou sete meses depois numa cama de hospital e mal conseguia mexer sua boca. Esteve em coma. Ficou com sequelas por um bom tempo. Sua irmã disse que o supermercado arcou com as despesas do hospital particular, convencido de que o moço havia lanchado ali como fazia diariamente. Sua irmã não sabia do hambúrguer gigante e concordou em aceitar. Através de testes detectaram que seu organismo estava combatendo uma bactéria vinda de ratos que haviam contaminado o hambúrguer.
Ana então perguntou para ele se nunca mais havia comido hambúrguer na vida. Ele riu primeiro e depois respondeu: - Estou aqui ainda... Claro que não. Sentindo-se empolgado pela curiosidade dela, continuou a conta e contar.
Por fim, chamaram pelo corredor o nome da criança e Jéferson se despediu. Ela entendeu quando ele disse que mesmo desempregado e só com grana para o “busão”, morando de favor na casa da irmã, estava feliz pelo fato de ter saúde, disposição e existir.
Helena Douthe