Águas da infância

Quem a vê assim, pode pensar que era dada às águas. E era. Desde muito pequena ouvia a mãe dizer que saindo para trabalhar, a tia a colocava dentro de uma grande bacia plástica e ali a deixava tempo suficiente para limpar a casa com tranquilidade. Daí a explicação para sua cor, morena marron, mesma cor de canela.

Antes disso, já se ouvia a história de que ao nascer sua pele era branquinha e o olho um tanto claro. Até aí normal, a ciência que explique isso, mas a pele mudar com a água? Não. A água em sua infância era só mais uma distração agradável, bom mesmo era o sol acompanhado de um ventinho que lhe refrescava as ideias, enquanto deitava e rolava na areia dizendo pegar uma cor. Não sabia ela que a cor já era sua, assim como o vento, o sol e a água em suas brincadeiras de férias ou em um dia comum.

E com aqueles minúsculos biquínis ela fazia lembranças. Não é que em meio a diversão aquela menina já fazia poses, quem diria um dia, uma modelo. Boa, essa por certo lhe renderia algum dinheiro, já que o corpo era propício. Magra, sempre magra. Mas fotografia mesmo ela só gostava de fazê-las. Descobriu tempos depois que tinha um olhar poético, via beleza onde às vezes nem existia, e fotografava. Não achava muita graça em ser alvo daquelas lentes, a menos que seu braço voltado para trás a capturasse. E há quem diga que as self’s é uma invenção desses dias.

Entre peripécias, a água talvez servisse para curar mão inchada após ferroada de abelha, ou poderia lhe amenizar as coceirinhas. Bem que o poder da água poderia alisar aqueles cabelinhos entre a testa e a orelha que insistem em ficar bagunçados, dando voltas, pequenininhos e que fazem as mocinhas irem tanto ao banheiro para ajeitar, esconder. Menina, pare já de molhar isso, deixa esse cabelo quieto.

Tempo. Ah, o tempo lhe mostrou novos gostos, novas invenções, mas sem dúvida a água ainda está em suas preferências. Nada de modelo, nada de fotografia, nem água em gel fixador. Nada. O que alegra mesmo aquela menina magrinha são as lembranças que um dia criou, as lembranças que a infância deixou.

Ionara Lima
Enviado por Ionara Lima em 21/09/2018
Código do texto: T6455202
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