Mistério
Nunca, ela nunca se aproximou para tirar dúvida sequer. Chegou depois e já foi provocando reações diversas nas pessoas. Um dia veio uma jovem expressar sua aversão a ela. Por quê? Ainda que em vão, algumas palavras tentaram defendê-la.
Outro dia, um mais adulto dizia que ela não se enquadrasse, sem perfil e sem apreço pelos estudos. Dessa vez, nenhuma palavra saia, não por consentimento, era um tanto difícil tomar partido numa batalha marcada pela rejeição se nem ao menos conhecia o alvo.
O tempo passa e pra tudo ele passa. Algumas ideias foram se formando sobre aquela menina silenciosa. Aparência bonita, retocada. Olhar expressivo. A surpresa aconteceu quando ela trouxe um texto para primeira correção. Veja se tá bom, dizia aquela voz trêmula. Rapidamente, meus olhos se voltaram para ela, e o tempo não estava passando, fitei-a e vi-a se misturando, conversando sem nada dizer.
Precisei ler, e naquele instante muita coisa foi se revelando. Ela estava perdida… mergulhada dentro de si, emergia procurando o ar, mas voltava a afundar. Decepção, esse era seu título. Achei que poderia mais, mais que corrigir-lhe um texto, ela se abriu pra mim e eu fui. Tentei entender, ajudar. Não tinha o final e se misturavam os gêneros. Não reconheci como crônica, mas um pedido de ajuda, um conselho com colo e um lencinho.
O tempo não passava. Éramos eu, ela e uma brechinha aberta. Como sugerir algo tão pedagógico quando ali só cabia um abraço? Aquela maquiagem tão caprichada estava prestes a manchar, lacrimejavam os olhos tão carregados de embelezador. Vi e me atrevi a reprovar, e sem titubear ela foi logo recusando comentários.
Algumas falhas ortográficas, alguns consertos estéticos, e uma frase de encerramento, só isso pode fazer no papel, “por hoje é só, fechei-me em mim”. E assim ela terminou o texto, e assim ela quis ficar, aquietou-se no seu mundo.