O fio de Ariadne
O fio de Ariadne
Não passamos de uma grande interrogação, seres perpetuamente oscilando entre os lados opostos da ação e da inação.
Quais seriam as consequências do próximo passo que daríamos?
E se não o dessemos, como os eventos se processariam?
A nossa regência sobre o desenrolar dos eventos só acontece enquanto o evento está ocorrendo, cada ação nossa direcionando o rumo do mesmo.
Se eu for suficientemente ágil e rápido posso evitar a queda de um copo em que inadvertidamente esbarrei. Em caso contrário, só me restará juntar os cacos do dito copo e dar um destino adequado aos mesmos, pois o copo não mais será restaurado em sua forma anterior, fato que é similar para qualquer outra situação que se nos apresente.
A todo momento recebemos normas, modelos e processos que se propõem a nos orientar como nos dar bem no mundo, como tirar proveito de nossas presenças na sociedade.
Apesar de toda essa gama de ofertas tentadoras, dessa mala de mascate sempre aberta, não vamos cair na esparrela de que a vida é simples, de que a solução de nossos problemas está logo ali, na Tabajara da esquina.
É digno de nota observar como perseguimos o que chamamos de sucesso, de felicidade, que pode ser traduzido como estar num bom emprego, cartão de crédito ilimitado, fama a qualquer preço, construir a casa de nossos sonhos...
...enfim, como nos atirar como caes famintos, a conquistar esse colar de inutilidades que nos ensinaram que é a coisa certa a se fazer na vida.
A coisa funciona bem até a página dois desse livro bonitinho, pois, a partir daí vem a avalanche de, (olha só ela aqui de novo) INTERROGAÇÕES!
E essas persistentes e incômodas companheiras não costumam nos largar. Ficam mais agarradas em nossas peles do aquele carrapato inconveniente.
Perturbam-nos antes de dormir, durante o sono recheado de sonhos pra lá de estranhos, e ainda se fazem presentes quando acordamos.
Afinal de contas, que diabos estou fazendo nesta vida?
A resposta de dez milhões de euros só pode ser dada pelo próprio ser que interroga. E isso, ele goste ou não, está escancarado nele mesmo, represado em suas frustrações, em seus muitos sonhos abandonados, independente da maquiagem de títulos e funções que eventualmente este ser possa ostentar. Nem mesmo a panaceia oferecida pela medusa Normose poderá nos isentar do enfrentamento com nosso próprio inquisidor interno, perto do qual, Torquemada não passaria de uma criança birrenta.
A saída desse labirinto de interrogações não é propriamente uma saida: é nos acostumamos a escarafunchar dentro do vasto universo que somos nós mesmos, trazendo à luz as interrogações que nos atormentam, pois são essas mesmas interrogações, essa capacidade de nos questionar, que dão colorido ao nosso insensato viver.