Condução

Passa todos os dias às 12h00min, às vezes às 12h05min, já chegou até a passar às 12h20min.

Lá, a gente tem que segurar forte para não cair e o motorista tem que usar de maestria para não passar direto do ponto de parada, ver o homem que vem correndo na rua, receber o dinheiro, passar o troco, apertar o botão para liberar a catraca, dirigir, parar, apertar o botão para a porta de trás abrir, esperar as pessoas descerem, não derrubá-las e ainda não bater na moto que insiste em ultrapassá-lo pelo lado direito.

Lá, tem a mulher da farmácia, a menina que trabalha como professora em uma escola pública, o "cara" da verdura, o camelô, o jogador de futebol, o desempregado à procura de emprego, a modelo, os humoristas, os mal-educados, as fofoqueiras, os que não gostam de desodorantes, as cantoras, os que um dia vão vencer na vida, eu e muita gente simples, trabalhadora e honesta.

Nesta segunda-feira, como todos os dias, não tinha cadeira vaga. Então eu fiquei em pé próximo à menina que estuda na escola técnica, pois ela é sempre a primeira a descer.

Mas, nesse dia, justamente porque eu estava com quatro livros pesados que eu peguei na biblioteca municipal para estudar para o tal do concurso que vai mudar a minha vida, eu descobri que ela tinha mudado de casa. Parece que para uma melhor e localizada em um bairro não tão periférico, porém eu não estava ligando. Droga! Naquele dia, a minha estratégia de conseguir um assento não tinha dado certo e, como sempre, ninguém se ofereceu para segurar as minhas coisas. E, acredite, desse jeito, a força tem que ser bem maior para não cair.

Mas não tem nada não...

Quem sabe amanhã a mulher da farmácia tenha conseguido um emprego melhor e mais próximo de casa, que dê para ir a pé. Aí eu poderia sentar no lugar dela...

Quem sabe a futura técnica se mude novamente, só que, dessa vez, para um lugar mais próximo ou se forme!

Quem sabe depois de alguns dias eu descubra quem dentre os frenquentadores assíduos agora desce primeiro.

Quem sabe eu economize umas moedas para ir de táxi ou até consiga comprar, enfim, a minha moto sem marchas.

Quem sabe...

No ônibus, esperança é o que não falta.