REENCONTRO DE TURMA
Crônica de Gustavo do Carmo
No dia 26 de fevereiro fez vinte e dois anos que eu tive a minha primeira aula na FACHA – Faculdades Hélio Alonso. Eu queria escrever um conto, no qual o protagonista era convidado para uma festa de reencontro da turma após longo tempo e só fez questão de ir para disparar algumas verdades e ressentimentos.
Mas estou sem saco para escolher vinte nomes fictícios, inclusive o meu. Confesso que tive vontade de dar nome aos bois, ou melhor, aos ex-colegas. Só que eu não posso. Arrogantes do jeito que eles são, poderiam me processar. Ou, então, responderem me jogando na cara todos os meus defeitos. Alguns eu já antecipo: era meio bobo e tinha uma imaturidade ainda pior do que hoje. Imagino que nos reencontros que eles organizam fazem uma rodinha e ficam me chamando de débil mental ou mesmo autista (o que realmente eu sou), para dar um tom mais educado.
Claro que eles vão negar, porque já me disseram que o mundo não gira ao meu redor. Mas tenho certeza de que já falaram de mim pelas minhas costas. Minha orelha já ardeu várias vezes. Reconheço que eu não sou normal. Eles podem ter razão, mas me recomendaram não expor os meus problemas emocionais. Vou desobedecer essa recomendação.
Se eu fosse convidado hoje para um reencontro desses eu não iria. Tenho vergonha de mim. Esses ex-colegas estarão exibindo maridos e esposas, filhos e sucesso no trabalho. E eu iria exibir o quê? Que ainda moro com os meus pais? Que nunca trabalhei na vida? Que me dedico a dois blogs de pouca audiência? Que eu publiquei dois livros: um romance de mentalidade infantil e um livro de contos boicotado pela editora? Se eu fosse iria exibir as minhas mágoas, ressentimentos e ódio com a maioria mesmo. A vontade de falar muitas verdades na cara é grande.
Nota: Eu até escrevi o conto fictício, onde é a irmã que vai defender o personagem menosprezado. Mas como eles jogam na cara dela seus defeitos, achei falta de respeito e estou segurando para não publicar.