Os lanceiros negros
Nesta semana em que comemoramos os feitos da nossa história, quero abrir um parêntese para chamar a atenção para um capitulo da que não recebeu e não recebe o merecido reconhecimento. A participação do negro na Revolução Farroupilha.
Antes de mais nada você deve saber que eu não sou um historiador. Apenas um leitor e como todo o leitor me interesso por alguns temas e deles adquiro informações e conhecimentos. A história dos Lanceiros Negros na Guerra dos Farrapos e a história de seu comandante Coronel Teixeira Nunes me seduzem imensamente e por isso quero compartilhar esse meu fascínio com vocês nestas poucas linhas.
Os negros estiveram presentes na Guerra desde o início. Em 1825 até 1828 o Brasil esteve envolvido na Guerra da Cisplatina e por tal feito muitos escravos, principalmente do Uruguai fugiram para o Brasil e se juntaram as tropas, naquele momento imperial.
Como escravos fugitivos após a guerra eles foram incorporados nos exércitos domésticos dos militares estancieiros do Rio Grande do Sul. Eles se ocupavam do trabalho de peão, e tinham alguns privilégios que os escravos daqui não tinham.
Na tomada de Porto Alegre, as tropas farroupilhas já traziam diversos negros. Conforme a revolta ganhava corpo e adesão nos primeiros meses, mais estancieiros chegavam e junto com eles novos negros e índios. Eles estavam em praticamente todas as tropas da revolução.
Em 1936 o Tenente Joaquim Pedro Soares já ventilou a ideia de se criar uma divisão apenas de negros. A ideia não se tornou realidade de imediato, no entanto, como seu comando maior era o Major Teixeira Nunes, um dos homens de confiança de Bento Gonçalves, este permitiu que houvesse uma guarnição de lanceiros negros.
No Seival em 11 de setembro daquele ano, quando o General Neto estava prestes a ser derrotado, o reforço das tropas de Teixeira Nunes foi a salvação da maior batalha de toda a revolução. Os negros se destacaram e em meio a todo clamor da vitória, duas decisões foram oficializadas, Neto declarou a República e deu a ordem para oficializar a divisão de Lanceiros Negros das tropas Farroupilhas.
Inicialmente as tropas foram comandadas Joaquim Pedro sob a supervisão de Teixeira Nunes, mas por ser uma tropa de lanceiros e pelas características de comando de Teixeira Nunes, esse passou para o comando direto dos lanceiros.
Depois de muitas batalhas que o espaço nos impede de detalhar veio a tentativa de paz que esbarrava em um único entrave. Os comandantes Farroupilhas haviam prometidos que todos os negros que lutaram na Guerra seriam libertos. Isso era consenso entres os farrapos. Teixeira Nunes por outro lado, tinha a verve abolicionista e queria a libertação de todos os escravos. Isso o colocou diversas vezes em confronto com o alto comando naquela oportunidade liderada por David Canabarro. O império queria que os negros guerreiros voltassem a condição de escravos.
Em novembro de 1944 houve um acordo de largar as armas para negociar a paz. Na localidade de Porongos em Pinheiro Machado, David Canabarro tomou uma decisão muito contraditória: Ele fez acampar as tropas separadas. Eram três grupos, separados praticamente por etnia. Índios, Negros e Brancos.
Por ordem do comando Imperial no dia 13 de novembro a divisão de Lanceiros Negros foi atacada e massacrada. O alto poder de fogo do ataque aliado ao fato dos lanceiros estarem desarmados levou a quase dizimação das unidades. Muitos morreram e outros tantos foram feitos prisioneiros.
Teixeira Nunes e um grupo escapou. Dias depois, recebeu ordem de com seus lanceiros coletar impostos na retaguarda das tropas imperiais. Os lanceiros foram novamente atacados, pelo mesmo grupamento imperial, e desta vez foi dizimada inclusive com a morte de seu comandante. Essa foi a última batalha da Revolução Farroupilha e com a morte dos negros e do principal comandante abolicionista a paz foi assinada no ano seguinte em Ponche Verde.
Ainda hoje é contraditória a participação ou não de David Canabarro em um complô para dizimar os lanceiros negros. Seja como for, a nossa história ficou em dívida com os lanceiros e com a crença de liberdade e igualdade. Precisamos olhar com um pouco mais de carinho e respeito para essa clamorosa participação em nossa história e dar-lhes o reconhecimento que lhes é merecido.