A MANOBRA DO FIGUEIREDO

Eu sei que normalmente as pessoas não gostam de misturar arte com política, mas quando chega época de eleição eu sempre me lembro da manobra do Figueiredo (quem dos mais antigos que não se lembra do Figueiredo?) durante as efervescentes eleições de 1989. Não que o episódio tenha tido qualquer influência sobre o resultado do pleito, mas foi algo absurdamente tão bem feito que poderia ser classificado como arte, e eu me sinto na necessidade de divulgar, principalmente entre os jovens destes tempos em que as coisas mudaram tanto, que parecem tão fáceis e simples de serem feitas.

Foi assim: tinha acontecido uma carreata na nossa cidade, e os carros parados ocupavam os dois lados da rua, nos dois quarteirões do centro onde o pessoal se aglomerou. A única vaga pra estacionar estava diante de nós, porque o Jurandir havia acabado de sair com o seu fusca. Aí veio subindo o Figueiredo, com o seu opala Comodoro 4.2S preto de seis canecos – que certamente bebia mais que o dono, e olha que o Figueiredo batia forte, hein! Passou diante da vaga e parou, e todos nós imediatamente pensamos: “não vai caber, o Figueiredo tá doido”. Pra sair dali com o fusca o Jurandir teve de ir e voltar duas vezes. Tudo bem que o Jura não era um exímio motorista, mas a questão é que a vaga era mesmo muito estreita, ainda mais pra um Comodoro. Mas lá foi o Figueiredo: pôs ré, veio, esterçou, entrou de prima, arrumou, foi pra frente e parou. Por Deus, não cabia nem pensamento entre o opala, o carro da frente e o carro de trás. Foi a estacionada mais espetacular que eu vi em toda a minha vida! E o Figueiredo desceu com o ar mais natural do mundo, atravessou a rua e foi ter lá com a turma dele.

Agora têm todas essas coisas tipo sensor de estacionamento, câmera de ré. Quê! Com o Figueiredo não teve nada disso não. Foi no braço mesmo. O cara foi um verdadeiro artista naquela manobra...